"Amor é isso, sexo é aquilo..."
“A
vida sexual da MPB” é um título intrigante e até causa ideias equivocadas para algumas
mentes limitadas. O autor Rodrigo Faour não se restringe ao analisar somente letras
dos compositores e cantores clássicos, como Caetano, Gil, Chico, Gal, Bethânia,
Fafá e outras dezenas de nomes inclusos no rótulo de MPB, isto é, o dito como intelectual
e bom gosto da música nacional. A sigla, no entanto, significa Música Popular
Brasileira, em que o popular de modo literal é predominante, assim como o termo "cultural", ao debater o livro
de mais de quinhentas páginas de Faour.
A
mulher brasileira vista como prostituta ou destruidora de lares; as marchinhas
de carnaval como único gênero a tratar o amor como algo positivo; o funk
carioca como realista social, não como depravador; a pouca ou grandiosa
colocação dos gays; enfim, há no “A vida sexual da MPB” todo o sensualismo e
romantismo que se passou na construção da Música Popular Brasileira. Rodrigo
Faour expõe trechos de letras e imagens dos principais álbuns para expandir o
entendimento, com o auxílio de psicólogos e teóricos.
O
livro, que também já foi abordado em forma de documentário, chama atenção
daqueles que se precipitam em elevar um gênero musical do outro; criticando,
por exemplo, o funk carioca ao se associar a vida da favela e as músicas com
sacanagem escancarada. Para aqueles que só sabem criticar, é como levar um
tapa. Não dá mais pra se mostrar superior por gostar de um gênero e difamar o
outro, como se houvesse uma hierarquia entre eles. Por mais que um ritmo não seja
de sua preferência, é inegável dizer que ele não foi importante para o desenvolvimento
da música popular brasileira. Até porque, com o advento da indústria, os ritmos
tiveram a necessidade de se misturarem, o que, porém não prejudicou nenhum dos
lados.
Ao
contrário do que muita gente sabe, a música passou por muitas transformações
positivas, mas também árduas. Um exemplo mais contemporâneo é Gaby Amarantos,
que para se encher de roupas bregas com um toque de glamour e desorientar uma plateia
com tanto exagero e presença, a mulher teve que enfrentar todo tipo de perseguição
para ser aceita como uma intérprete. Rodrigo Faour, de forma minuciosa, explica
que as marchinhas de carnaval, o funk, o maxixe, o pop rock, o brega, o forró,
sertanejo, enfim, todos os gêneros contribuíram para que a música brasileira
explorasse com mais liberdade e consciência o amor e sexo na trilha sonora de
nossas vidas. Por isso, antes de julgar o colega do lado por ouvir determinado gênero, para e pense, pois ele é, de alguma forma, importante para a nossa música. Para a nossa Música Popular Brasileira.
Comentários
Realmente, não podemos ignorar ou menosprezar algum produto cultural por ser fruto da chamada cultura popular. Não se trata de lixo cultural, mas sim de adubo para fazer crescer a sociedade e dar maior visibilidade ao que a classe popular pensa, fala e vive.
Texto nota 10, vc não perde seu estilo, pelo contrário. O aperfeiçoa. Parabéns amigo!