Resenha: Tim Maia nas páginas e nas telas (livros e filme)
Doido.
Ele era doido de pedra. Acabei de ler, pela segunda vez, o livro escrito pelo
jornalista e produtor musical, Nelson Motta, o “Vale Tudo – O som e a fúria de
Tim Maia” e vi que não tinha artista mais pirado, em vários sentidos, que o
autor de “Réu confesso” e “Azul da cor do mar”. O que os produtores mais temiam
quando contratavam Tim Maia para realizar um show era se ele iria ou não
comparecer. Além dessa irresponsabilidade, bebedeira e maconheiro pra caramba,
só fazia o que queria, mandava todos irem “pra casa do caralho” quando estava
puto, mas ainda assim era divertido, de bom coração, e acima de tudo, um gênio
da música. Isso pode ser percebido, também, no filme “Tim Maia”, que estava nas
telas dos cinemas até semana passada, baseado na obra de Nelson Motta. Mas,
claro, com pontos de vista diferentes.
O
livro de Nelson Motta não é tão descritivo e metade dele quase não tem diálogos,
enquanto o filme traz cenas mais detalhistas sobre a história de Tim Maia, com
algumas que não se encontram nas páginas. O diretor do longa, Mauro Lima,
produziu-o à própria maneira de ver a vida do “síndico do Brasil”. Afinal,
diferentemente do que mostra o filme, o cantor paraguaio Fábio,
interpretado por Cauã Reymond, não foi o único amigo dele e Janaína, vivida por
Aline Moraes, também não foi a única namorada. Ele teve, pelo menos, umas três
namoradas, sendo que duas eram fãs, e várias prostitutas; e inúmeros amigos, anônimos
ou famosos, como o cantor e compositor Hyldon e o próprio Nelson Motta, que não
foram citados no filme.
Ainda
assim, esse corte não foi considerado um grande erro, na minha opinião. Até
porque, vale lembrar, que nem todos que vão assistir ao filme são verdadeiros
fãs do cantor ou de música, de fato. Mauro Lima resumiu os vários amigos de Tim
em um só e as namoradas em uma só, obrigando a quem assistiu a pensar que, como
muitos galãs do cinema, Tim Maia tinha um par romântico e um (único) amigo do
peito. Mesmo que tenha feito disso algo dinâmico e simplório para relatar de forma coesa a
história, também pode confundir ou simplesmente passar por uma grande mentira
para os não-conhecedores de música.
Babu
Santana e Robson Nunes interpretaram Tim Maia, na fase adulta e adolescente,
respectivamente. No livro, nota-se o piadista, brincalhão e de sorriso aberto;
no filme também se vê o quão ele era engraçado, mas não dava um sorriso sequer,
nas duas atuações. Dá para comparar em imagens que o próprio filme mostra do
verdadeiro Tim Maia, nos créditos, rindo, enquanto o(s) do filme vivia(m) de
cara amarrada. Contudo, o longa foi fiel ao retratar a vida do músico nos
Estados Unidos e a luta para se tornar um ídolo do Brasil. Aliás, Roberto e
Erasmo Carlos são bem retratados no filme, sobretudo o primeiro. E o fato
curioso: Roberto Carlos, vivido por George Sauma (Tatalo, do "Toma lá, dá cá"), censurou uma biografia sua porque argumentava que havia um conteúdo cheio “mentiras” e difamaçaões sobre ele, mas liberou que mostrassem no filme
o amigo da onça que ele foi com Tim Maia. Vai entender esse cara...
O
filme quase não explica os problemas de saúde que Tim Maia tivera e não foram
poucos, tanto que ele mal relata o motivo da morte. Foi súbito. Porém, no “Vale
Tudo – O som e a fúria de Tim Maia” também foi algo inesperado: pronto para
gravar um “ao vivo” no Multishow, o intérprete de “Gostava tanto de você”, em
março de 1998, teve uma crise de hipertensão, uma embolia pulmonar e uma parada
cardiorrespiratória logo no início do show, nem conseguiu cantar a primeira
música. Ao menos o Brasil e o mundo teve a chance de conhecer Tim Maia e quem
não viveu esse período, o filme e o livro, juntos, contribuem para esse
ensinamento. As duas obram se complementam, cada uma da sua maneira . E eu digo que vale a pena. Ou
melhor, "vale tudo"...
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