Resenha: O que eu Sei de Nando Reis

Nando Reis lançou recentemente seu décimo primeiro álbum, “Sei”. E alguém aqui já foi às lojas para adquirir o seu? Ou no camelô mais próximo para economizar uma grana? Ou já tentou fazer um download das músicas? Não? Então, nem os faça, porque será perda de tempo. Os CDs estão sendo vendidos apenas através do site (clicando aqui). Os fãs devem fazer uma oferta pelo disco, que, a cada semana varia de acordo com a procura, como cotas de empresa. Mas o usuário também pode simplesmente ouvi-lo, sem sequer comprá-lo –  mas também sem baixá-lo, óbvio.

E mais uma música de trabalho de Nando Reis foi para uma novela da Rede Globo. A trama das seis, Lado a Lado (de Claudia Lages e João Ximenes Braga) aderiu a canção título do novo disco, “Sei”, como tema dos personagens principais, Laura e Edgar, vividos por Marjorie Estiano e Thiago Fragoso. A música deixou o romance fictício ainda mais bonito e o compositor prova, novamente, que uma letra não necessita de um refrão “chiclete” ou de rimas bobas pra ser boa ou para ser um sucesso. “Sabe” e “pessoa” são as palavras marcantes da canção, que presa por seu romantismo e singularidade.

Porém, nem só de palavras bonitas são feitas as obras de Nando Reis. Boa parte de suas letras vem com algum tipo de estranheza ou bizarrice que quase ninguém entende, nem a mensagem e nem o porquê ela foi escrita dessa forma. No novo álbum, “Eu e a bispa” é o que trás um espanto para os nossos ouvidos com os versos “Nem a terra encobre a carne podre esconde a caveira a morte/ Nem a punheta fode pelo pau que não fode a buceta”. Ousadia sempre vale, mas precisava tudo isso? Até que ponto o intelectual da pessoa serve para chamar a atenção do público? Queria que Nando Reis me respondesse isso.

Como nos velhos tempos, Nando Reis fez parceria com a ex-namorada, Marisa Monte, na bela canção “Pra quem não vem”. O casal já compôs juntos “Aonde você mora”, “Diariamente” e “Ainda lembro”, que a cantora dividiu o vocal com Ed Motta. Na balada inédita “O que eu só vejo em você”, o Ruivão cita um trecho da música “Tempos modernos” do cantor Lulu Santos em “Porque não há quem volte, amor/ Como diz a linda canção”, em que ele descreve um amor imaginário, da forma de como poderia ser, confundindo o real com a ilusão. Além de Lulu, Nando Reis também cita a mãe, Cecília, e os amigos já falecidos: Marcelo Frommer, guitarrista dos Titãs, e Cássia Eller, na música “Back in Vânia”, para sua esposa de mesmo nome, perguntando-se onde eles estão agora e logo responde: “- dentro do meu coração”.  

Letras existencialistas, quase sempre sem refrão, com pouco clichê, as músicas do mais recente álbum de Nando Reis repetem sua fórmula sem cair no repetitivo ou abusar muito do novo e acabar fazendo besteira. Algumas delas, como “Sei”, “Pré-sal” e “O que eu só vejo em você” tem o estilo típico do cantor de produção e estão prontas para se tornar alguns dos novos hits, com muito ou pouco sucesso, como no álbum “Drês”, que mesmo com tanta canção interessante, quase nenhuma foi explorada. E para este se tornar um disco notório não depende mais de gravadora ou da mídia, mas sim, praticamente, dos próprios fãs.

Fonte: site Folha de São Paulo