Entrevista com Vanessa Oliveira, autora de "Tudo de novo", a biografia oficial do Roupa Nova
O livro “Tudo de
novo - a biografia oficial do Roupa Nova” já rendeu uma resenha aqui no blog
por ser uma obra de grande relevância para pesquisas musicais, pela atraente
narrativa da jornalista e escritora Vanessa Oliveira e por outros tantos motivos. O modo de
como ela conta a trajetória de vida dos intérpretes de “Sapato velho” e “Whisky
a go go” faz com que o leitor se interesse a cada capítulo que termine pelo
restante da história, e não só por esta, mas por outras narrativas de biografias
musicais. E “pesquisar muito, gostar de ouvir casos de outras pessoas, ser
paciente, determinado e apaixonado pelo ‘contar’” são características que não
devem faltar para se escrever uma biografia, é o que explica Vanessa Oliveira,
em entrevista, aqui para o “Outras Palavras”.
A paixão pela
música e o fato de um tema como esse ainda não ter sido explorado em outros
livros motivaram a jornalista Vanessa Oliveira a escrever a biografia
sobre o Roupa Nova, além de ser grande fã do grupo. “Lembrei do primeiro show
que eu fui, na minha vida, aos sete anos: Roupa Nova, Canecão – Rio de Janeiro.
E de como é uma banda menosprezada por críticos devido a pré-conceitos e falta
de conhecimento, o que me levou a desmistificar essa história”, conta a
autora, que tem este como seu primeiro trabalho lançado por uma editora, a Best
Seller, pois os outros que tem a música como temática podem ser encontradas
apenas no meio acadêmico.
A principal
dificuldade que Vanessa enfrentou para escrever “Tudo de novo” foi com a
própria banda, pois durou praticamente três anos de trabalho para convencer a
todos os integrantes a autorizarem a publicação da biografia. Ela conta que
entrevistá-los foi a parte mais difícil e também a mais gratificante. “Afinal,
quando eles decidiram participar, entraram de cabeça no projeto”, afirmou. Além
disso, uma possível não-autorização do sexteto não impediria a autora de
divulgar a biografia, mesmo que por meio virtual. “Para mim, esse trabalho era
tão importante que eu colocaria ele de graça na internet, ainda que não fosse
autorizado. E quando você tem medo de perder seu trabalho, você simplesmente
segue em frente”, esclarece Vanessa.
Como comentei na
resenha, a primeira parte do livro, nomeada como “Caras e tipos”, é, talvez, a
que mais chama a atenção do leitor por contar de modo dinâmico a história de
vida dos músicos antes de se conhecerem e que, por isso, foi a mais trabalhosa
para Vanessa produzir. Na verdade, foram também os trechos que ela mais amou registrar.
“Em cada capítulo dessa primeira parte, entrava em um cenário diferente, familiares, amigos,
tentando captar cada detalhe pessoal e particular dos integrantes. E sempre
achei que fazendo isso no começo do livro era essencial, já que no decorrer do
tempo as histórias deles se confundem e se misturam. Todos os capítulos têm o
mesmo objetivo: mostrar o universo de cada um, porém, para mim, eles têm cores,
canções e sabores diferentes”, elucidou a autora, contando, também, que não tem
como entender o Roupa Nova, sem antes perceber quem são Cléberson, Feghali,
Kiko, Nando, Paulinho e Serginho.
O livro “Tudo de
novo” surpreende ao mostrar os percalços que o Roupa Nova encarou para se
firmar no cenário mercadológico. Atualmente, de acordo com Vanessa, o grupo
está mais maduro e estabelecido no mercado, e tem como a dedicação constante à
arte, sem preconceito quanto aos gêneros e outros ritmos, sua maior
contribuição para a música brasileira. E quanto ao período em que produzia a
biografia, a autora diz que se admirou com um pouco de cada coisa que
descobriu sobre a vida dos ídolos, como “as histórias pessoais, o cenário dos
bailes da década de 70, o aprendizado musical na (TV) Globo, a aproximação da banda com a Rádio Cidade, e as escolhas difíceis que ela tomou.
Honestamente, o que mais me chamou a atenção foi o a determinação do Roupa Nova em
continuar na estrada”, define.
Já ouvi comentários
de pessoas que não se interessariam pela história do Roupa Nova justamente por
não ser “polêmica” como a de outros artistas. Em relação a isso, Vanessa acha
que existe um preconceito em torno do nome do grupo e que não é a polêmica que determina
a qualidade de uma narrativa. “As pessoas repetem fatos falsos que ouviram de
conhecidos e opiniões mal fundamentadas. Não é por ser polêmico que a história
é boa. Ela pode até apimentar uma narrativa, mas o que importa mesmo é a forma de
como o plot central[1] é
contado. Não duvido nada que tenha gente por aí lendo escondido o livro do
Roupa”, brinca a autora.
E quando se
trata de um momento mais interessante na história do Roupa Nova, Vanessa cita a
época entre 1984 e 1987, “tanto pela mudança de gravadora, quanto pela entrada
das empresárias Anelise e Valéria. São decisões importantes tomadas nesse
período que marcaram a banda até os dias atuais. E ao mencionar uma música ela
diz que cada uma tem o seu momento, mas afirma ter um apreço a mais por “Sapato
velho”, “Canção de verão”, “Coração pirata”, “Chama” e “Seguindo no trem azul”.
Vanessa acredita
que ler muito, e todos os tipos literários, independente daquele que se
escolheu para escrever, é o melhor conselho para os que, como eu, desejam
publicar um livro. “Além disso”, ela finaliza, “conhecer histórias contadas em
outros formatos: filmes, séries, quadrinhos. É extremamente enriquecedor
perceber cada tipo de narrativa. E lógico, por fim, viver muito. Amar, chorar,
conhecer lugares e pessoas. Escrever é colocar nas linhas sempre um pouquinho
de você. E eu acredito, de verdade, que quanto mais interessante a sua vida, mais
interessantes serão suas histórias”.
Comentários
Fico muito feliz em ver o crescimento e fortalecimento do seu trabalho, Victor.
Essa foi a primeira de muitas entrevistas que você conseguirá.
Você tem talento e seu brilho só tende a crescer. Sem falar que a Vanessa parece ser uma fofa, parabéns por ter conseguido uma entrevista com ela :)