Crônica: A terça-feira de Carnaval
É Carnaval. Com “C” maiúsculo,
sim. Terça-feira, 28 de fevereiro de 2017, Carnaval. O dia em que todas as
sensações possíveis se afloram em uma só. Ou posso dizer “os dias”, já que são arrastados mais uns cinco dias de feriado. Mas precisamente hoje é
dia de curtir a ressaca da farra anterior. Da cerveja, do vinho; ou
da praia, do reencontro, do cinema. A ressaca não precisa ser
profana. É descanso. Ou pode ser o dia em que você emenda uma festa na outra, curtindo
o pagode na praia, a chuva na rua da sua casa, o retiro evangélico, o dominó em
família e amigos – como foi o meu caso ontem, na imagem ao lado -, de estar com o abadá no corpo e esperando
seu bloco passar na rua, de fazer o filho dormir, de estudar, assistir filmes, ler um livro, aprender músicas novas no violão, ficar de conchinha com a pessoa amada. É dia de folga. Dia de liberdade corporal, criativa, pessoal. É um
dia seu.
28 de fevereiro de
2017, que nesse ano caiu no Carnaval, também é aniversário do meu grande amigo Junior
Neves. Um amigo que conheci há uns dez anos nas esquinas virtuais. Um tempinho
depois, nos conhecemos cara a cara no Colégio Sophos, mas nosso
contato era basicamente pelo saudoso MSN. Atualmente continuamos assim: no vínculo cibernético para um diálogo e fortalecer a amizade. Porque
para uma boa amizade não há distância, não há presença física, não se precisa
ver nem se falar todo dia, não se necessita estar grudado, nem revelar todos os
segredos. Para uma boa amizade é necessário ser amigo. É necessário orar pelo
amigo, torcer por ele, acalentar seu coração com as energias mais coloridas e
banhá-lo com toda a sua sinceridade. Para o meu amigo aniversariante é dia de
fechar os olhos por um minuto e agradecer pela saúde, maravilhas, desafios e até tristezas que a vida o tem privilegiado. Tristezas também, apesar de parecer
estranho. A tristeza nos prepara, nos incentiva, nos seca as lágrimas, nos
derruba e nos põe pra cima. É preciso um pouco de tristeza para que a alegria
venha com mais força e fique por mais tempo até fazer parte do nosso corpo e mente.
No entanto, 28 de
fevereiro de 2017 não simboliza somente a vida. Simboliza outras vidas em
outros planos. Meu avô paterno, Rosemiro Gama, faz um ano de morto hoje. Patriarca
de uma família de espírito leve, de parentes que eu nem aprendo o
nome e o rosto de todos porque são muitos. Muitos. Também é o velório do primo
do meu amigo Leonardo Monteiro. Meu abraço de compaixão e amizade está nele
agora. Nele e na família que sofre por essa viagem. Pois quem morre não morre de
fato. Não nos deixa de fato. Faz uma viagem, um outro percurso. Aceitar essa
viagem que é difícil para quem fica. E só Deus para nos confortar e (tentar) nos
fazer entender que os caminhos de cada indivíduo são diferentes. São caminhos
de estradas largas ou curtas, umas mais esburacadas e outras asfaltadas, com
dias chuvosos, de gotas de matar a sede e afogar os olhos. É vida, de um jeito
ou de outro, mas é vida.
Hoje é Carnaval. Para
uns, folia, escolas de samba, blocos de rua; festa na praia, na casa, na casa
de praia, no bar da esquina, no restaurante, no “completo” da esquina; de
estudar, revisar, de ler os livros que emprestou da biblioteca da universidade –
ou da sua própria estante –, de assistir as séries na Netflix, de ficar
deitado, de dormir, de varrer a casa... Hoje é dia. É o dia de comemorar
aniversário de 26 anos e desejar ao seu amigo que ele aproveite cada pingo de
suor e lágrima com sorriso no rosto e lembrá-lo o quão ele é importante pra você; é dia de sentir saudade, de chorar no
colo da mãe, por quem já se foi há um ano ou quem já se foi ontem, por quem,
como eu já disse, foi fazer uma viagem. Hoje é Carnaval. Dia de do reencontro
das mais doces, salgadas e amargas sensações. É dia de ser feliz. É dia de, acima de tudo, viver.
Comentários
E que a alegria da terça-feira de Carnaval no dominó com a família possa ser vivida em muitos outros momentos ao longo de 2017!