Crônica: Por enquanto ♪
A primeira vez que ouvi Por enquanto,
do Renato Russo, foi na versão acústica da Cássia Eller. Sei até a data: 08 de dezembro
de 2004, na noite da festa de formatura/ despedida da turma da sala 7, 8ª série,
do Colégio Santo Agostinho (CSA), “conhecida” pelo bizarro nome de “Pixurão”. O
significado? Meus colegas Cleidson, Robson ou Wylleson podem dizer, mas eu
mesmo nunca entendi, por isso nem arrisco. Estudei nessa turma por 4 anos, mas fui
aluno do CSA desde gitiiinho. Em 2004, meus colegas e eu nos demos conta que era nosso último ano
juntos, já que naquela época não havia Ensino Médio no colégio. Vejo como
um beliscão pra todos da sala: aproveitar aquele período, unir as “panelinhas”,
pois no fim do ano cada um ia pro seu canto, mesmo (a maioria) morando numa
cidade pequena – Breves - em que facilmente poderia se esbarrar com vários
conhecidos num único passeio pela praça.
Naira Pantoja, minha amiga Pixurão, me atentou que a escolha da canção Por
enquanto veio por meio do professor de Educação Física Magno Castro, que a colocou pra gente na última aula e daí incluímos na festa - juro que eu não lembrava disso. Desde então, é só eu ouvir os acordes inicias de Mudaram as
estações/ Nada mudou... que eu lembro dessa noite. Nos últimos dias, tenho
lembrado com mais frequência, uma vez que uma das professoras mais queridas e
amadas pela nossa turma, daquele ano, nos deu notícias recentemente e por meio de um vídeo demonstrou
todo carinho e saudade que sente pelos seus alunos do Pixurão, como se a gente
tivesse saído do CSA “anteontem”. Foi a Letícia Troian, professora de Ciências.
Ela morou em Breves por apenas 1 ano, tempo o suficiente para os alunos das
duas oitavas séries se encantarem pelo seu sotaque sulista e jeitinho meigo.
Tivemos uma aula da despedida que, se
não me engano, foi após uma prova de Matemática e no dia do meu aniversário
(talvez eu tenha confundido tudo, mas foi por aí). Boa parte de nós chorou pra
caramba; alguns professores conversaram com a gente para lembrar que, mesmo por
tanto tempo compartilhando a infância juntos entre as paredes azuis do CSA, Renato
Russo é certo quando diz: Se lembra quando a gente chegou um dia acreditar/
que tudo era pra sempre, sem saber/ que o ‘pra sempre’ sempre acaba. Recentemente,
Por enquanto tem me trazido várias reflexões. Com essa canção, aprendi
que não existe “pra sempre”, que tudo tem fim, porém as lembranças de uma fase
boa e verdadeira ficam e isso é o que nos tranquiliza. Um mesmo grupo de amigos, por exemplo, de escola/ universidade/ trabalho/ estágio que foi unido e quase que inseparável por, sei lá, 4 anos, pode vir a se
distanciar; seja lá pelo motivo que for... Esse mesmo grupo de amigos pode jogar
pra debaixo do tapete que o ‘pra sempre’ sempre acaba e quando tu
percebes que mudaram as estações tu levas um susto. Mudaram as
estações e, sim, tudo – ou quase tudo – mudou. Por um bom tempo voltei e me iludir como um garotinho, esqueci
que esse “pra sempre” acaba e que poderia ser até mais cedo do que eu pensava,
e tenho a impressão que apesar do clima, do abraço, do colo, do beijo, do papo
e, sobretudo, do olhar não ser mais o de antes, por muito tempo vou poder dizer
que quando penso em alguém só penso em você...
Por anos, a letra de Por enquanto
sempre vem me ensinando. É um ensinamento de vida e, ultimamente, ela vem me
dando aulas de reforço e talvez eu até tire uma nota alta, porém sei que ainda
vou ter que me esforçar bastante. Nossas atitudes – que escorrem das nossas
escolhas – vão nos mostrar se nada vai conseguir mudar o que ficou e se
ficaremos bem. É bem possível que fique sim. Eu, como exemplo, seria um exagerado se
dissesse que todos no Pixurão têm um forte laço de amizade, mas há sim um
carinho enorme que ainda une (quase) a turma toda; um carinho por uma época singular
que o CSA nos proporcionou. Então, creio que Por enquanto vai continuar
tendo coerência em muitas das minhas vivências, especialmente as atuais, que vêm me balançando um bocado, e deixando claro que novas estação ainda virão, mas sem esquecer as antigas e, quem sabe, fazê-las ainda um presente. E vai
mostrar que tudo pode ficar bem, no final, basta a gente querer e acreditar
nesse sentimento. O importante é que esse sentimento venha de corpo e alma,
de coração e que o eterno existirá enquanto quem faz o hoje se mantenha
vivo.
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