Crônica: Tentei não falar...
Tentei não
falar de amor.
Tentei não
ver, não ouvir, não ler nada que fizessem burburinhos na minha selva interna.
Tentei não
falar sobre isso, mesmo falando aos 4 ventos e escutando do vento os sussurros mais
improváveis.
Tentei não
ver cenas de beijo; ficando apenas com os sustos e os dramas familiares. Mas era
só acabar o filme que o teu beijo me vinha à cabeça. E quando digo o teu
beijo, não quero dizer apenas o nosso beijo.
Tentei não
ouvir Jão pra não ficar na bad, mas era só eu ouvir Codinome beija-flor[1]
e Pra ser sincero[2]
que eu me sentia um fraco, frágil, estúpido pra falar de amor[3].
De novo.
Tentei não
ler poemas, mas quase todo poema que eu escrevia era um desabafo; não pela
desordem política e social. Não. Eu nem sei falar disso. Eu só sei falar de
amor.
Eu só sei
falar da gente. Do amor que eu imagino que existiu entre a gente.
Desse amor
estranho, que me tira do sério, me faz ficar sério, só pra depois ficar todo
bobo, sem ação.
Não adianta.
Digo que tentei não falar de amor, mas sei que, no fundo, esse amor me perseguia.
Me machucava, me maltratava... me acariciava, também.
Tentei não
falar de amor. Mas eu falhei. Miseravelmente.
Na verdade,
eu tentei não falar em ti. Não lembrar de ti. Mas eu falhei. Falhei. Tanto é
que escrevi esse texto.
E como em
quase todos os meus textos... eu desabafei falando de amor.
Falando da
gente.
[1]
Canção do Cazuza.
[2]
Canção da banda Engenheiros do Hawaii.
[3]
Trecho da canção “Imaturo”, do Jão.
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