Crônica: O último dia de aula
Todo
primeiro dia de aula na Esamaztec eu uso o poema “Desejo”, de minha autoria, para os alunos interpretarem (comigo) e escreverem um pequeno texto (de 5/6 linhas) do que
entenderam. Tentei mudar de poema, porém eu gosto demais desse por ter diversas
camadas que possibilitam uma reflexão e... claro, eu me divulgo, ainda que só
deixando um “V.V” no fim do texto.
Contudo, nunca levei “Desejo” para a turma do AFAS. Era uma turma de Redação
para concurso público de sargentos do exército (ESA), e como eu ainda não tinha
experiência com esse público, preferi não inserir o poema. No início, eu sentia
a turma muito distante, com pouca interação... Era um ritmo
de estudos diferente do ensino técnico, que eu tô acostumado; era, isto é,
um outro contexto, uma outra realidade de ensino: até agora, foi o meu
maior desafio de 2023, em vários sentidos.
Demorou
pra eu me sentir inteiramente seguro, admito. Mas, apesar de há um tempo não
ensinar para turmas de concurso público[1], tampouco a gramática pura de língua portuguesa, de tá meio enferrujado na Literatura, dei o meu melhor. Eu preparava a melhor aula que eu podia,
me dedicava feito doido quando tinha que substituir a professora de Língua Portuguesa e/ou quando fiquei
com um horário a mais para lecionar Literatura, além de corrigir as redações na
maior atenção e conversava com cada um sobre a escrita deles. Não sei se correspondi às expectativas dos alunos, mas entreguei o meu máximo.
Pois
bem... No último dia de aula de junho, levei o poema “Desejo”, junto com questões
objetivas e uma pequena proposta textual. É óbvio, ressalto, que eu já tava mais confortável com a turma (e comigo mesmo). Maaaas, vejam só o que aconteceu: o
ar-condicionado simplesmente pifou e tava uma quentura ‘do cão’ na sala! Como
que eu vou dar aula assim? A gente tava pingando de suor. Por ser o último dia de
aula, os jovens estavam doidos por férias (que nem eu); já foram poucos, eu vou
obrigá-los a ficarem em sala? Tédoidé?! Liberei eles, até porque o prórpio coordenador sugeriu. No entanto, três deles
ficaram conversando comigo e propus de interpretarmos o poema: super toparam a
ideia.
Foi
in-crí-vel! Eles foram além do que eu poderia imaginar. Um deles, menciono, já
conhecia o poema “Desejo” e disse que ia gostar muito se eu o levasse pra sala
de aula. Então, ele destrinchou meeeesmo! Foi um debate ‘do caramba’!
Excepcional! Tava quente pra porra? Tava, mas foi uma das melhores aulas: eles
discutiram, chegaram a alguns pontos que nem eu imaginava, com termos que eu
ficava era besta!
Pena
que foi o último dia de aula na turma do AFAS e nós nem sabíamos disso: houve
um problema administrativo, recentemente, e a turma foi cancelada. Porém, foi o
período em que eu aprendi; aprendi lecionando, aprendi ao lecionar e aprendi no
desafio de lecionar: é tudo a mesma coisa e também tudo diferente.
Sei que tive as minhas falhas e ainda irei crescer bastante como docente. Ainda assim, foi um semestre que evoluí como profissional e sou grato demais pela oportunidade que tive, mais grato ainda sou aos alunos, pela troca de conhecimento, pelas conversas depois da aula e pelo simples fato de muitos deles estarem ali na busca de um objetivo e, de um jeito ou de outro, de um sonho, assim como eu.
[1] Tô
há 1 ano e 9 meses na Esamaztec; antes disso, trabalhei como jornalista (2020/2021), em correção de provas online (2021/2022) e em
outro curso técnico (2019). Turmas de concurso público foram as minhas primeiras
experiências em sala de aula, em 2019.
Último dia de aula, em junho. |
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