Matéria: O massacre do dia 29 de abril de 2015
Manifestante ferido com bala de borracha no confronto
(Foto: Giuliano Gomes/ PRPRESS) -
fonte: G1
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O
dia 29 de abril de 2015 ficará marcado no Brasil do modo mais negativo
possível. Violência contra manifestantes que não apoiaram o projeto de lei que promove mudanças no custeio do Regime Próprio da
Previdência Social dos servidores estaduais - ParanaPrevidência. Bombas e tiros
de balas de borracha foram atirados contra eles, em Curitiba. O mais
absurdo disso tudo é que os policiais foram os agressores e os agredidos
foram 213 professores, que já estavam em greve desde o sábado (25/04), de acordo
com o site G1. Os policiais obedeceram à ordem para avançar
sobre os docentes, deixando-os com feridas em várias partes do corpo, incluindo o
rosto, como na imagem ao lado. Mas o pior ferimento está no desrespeito e
humilhação aos anos destinados à educação, e a esse dia, que ficou marcado
pelos professores como “massacre do dia 29” de abril”.
A
carreira do professor já enfrenta algumas dificuldades e o salário
desvalorizado é apenas uma delas. A violência dentro da sala de aula também faz
parte da profissão de muitos educadores, com alunos que os agridem de forma verbal e
não verbal; batem, ameaçam, enfim, amedrontando os colegas e as autoridades escolares.
É possível ainda que se note na ficção, como nos filme “Freedom Writers”, “Escritores
da Liberdade”, um drama norte-americano, de 2007, baseado em fatos reais. O
longa-metragem é inspirado no livro “The Freedom Writers” e conta a história da
novata Erin Griwell (Hilary Swank), que vai lecionar para uma turma de alunos
totalmente desinteressados. O desafio não é somente a falta de interesse, mas
as diferenças de raça, etnia e classe social, numa comunidade em que as brigas,
drogas e o preconceito envolvem a vida da maioria dos mesmos e com rivalidade
entre gangues. Erin presencia as constantes desavenças e confrontos entre os
próprios discentes, além da falta de apoio de seus colegas de trabalho. Porém,
como todo professor que se prese, a protagonista não desiste de sua função e
menos ainda dos alunos.
Um aluno espalhava uma caricatura trocista de um colega para a sala toda, envergonhando-o.
Erin, então, largou o método básico de tentar ensinar a “droga de gramática”,
como xingou uma estudante, e utilizou a mesma linguagem deles, com um contexto próximo
à cultura e as suas dificuldades. Até que, aos poucos, a frieza e o desrespeito que
a professora adquiria foram cessando e ganhava o reconhecimento e carinho. A
rivalidade entre gangues formadas nas comunidades, o sofrimento por já ter perdido algum amigo ou parente em detrimento do tráfico e do racismo, a distinção entre as raças e as
classes sociais eram as principais divergências entre a turma e a professora
iniciante. Erin, no entanto, prendeu a atenção dos alunos mesmo com todos os empecilhos.
Obviamente que “Escritores da Liberdade” explora muito mais que isso, contudo ele mostra que o professor, mesmo diante da violência ou de outros conflitos, sua função é levar conhecimento, cultura, arte e educação ao aluno. Na
verdade, “o professor não ensina, mas arranja modos de o próprio aluno descobrir”.[1] E não desiste, pois ele está ali para eles: os alunos.
O
professor, apesar da violência na sala de aula, não abdica a sua profissão.
Ensinar é a sua vocação. E, de certa forma, sua segurança. E quem deveria
manter a segurança de uma sociedade como um todo é a polícia, mas na
prática não é exatamente o que ocorre. Os policiais deveriam garantir o equilíbrio,
segurança e pacificidade. Agredir, com violência ou não, àqueles que têm a função de ensinar - e que,
inclusive, podem até lecionar ou ter lecionado aos seus próprios filhos – é uma
covardia e desumanidade. Acredito que esses policiais de Curitiba não tiveram uma educação
familiar adequada, ou não teriam sequer levantado a mão para os mentores manifestantes, muito menos agir como agiram, com tamanha violência.
Talvez a culpa não venha somente deles, mas das autoridades que ordenaram tal
ato de repugnância. Os professores cumprem, uns muito bem, outros nem tanto, seu dever, que, além de muitas coisas é transmitir
conhecimento e ampliar mentes para o mundo. Enquanto o polícia nem ao menos tem
noção do que significa “segurança” ou “proteção”, pelo visto. E as autoridades políticas
sabem ainda menos o que fazer com o Brasil, que, gradualmente, está indo pro "beleléu". Em outras palavras, acho que essa galera aí não fez a lição de casa corretamente.
Textos eletrônicos
http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/05/1623639-de-preto-professores-do-parana-protestam-por-menos-bala-e-mais-giz.shtml
[1]
PIAGET, Jean. Adaptado por Humberto Filho, 2015. Estudante de Fisioterapia das Faculdades
Integradas de Patos/ PB, e lecionada Atenção Básica em um curso
profissionalizante.
Comentários
Parabéns.
Postagem de um tema bastante pertinente, que é a base de toda a sociedade: a educação, e o instrumento principal de construção dessa base: o professor.
Respeitar o professor é respeitar e valorizar o futuro que queremos construir à sociedade. Como já foi comentado, a polícia brasileira apenas cumpre ordens e não reflete sobre seus atos, mero reflexo do ensino no Brasil, que faz alunos decorarem fórmulas e os ensina a não questionar, não refletir sobre seus atos.
Faz-se necessário uma reforma política no país, para melhorar a situação dos professores e da polícia, pois são todos vítimas do sistema no qual estamos afundados.
E parabéns, pois refletir sobre o tema e discuti-lo numa postagem de um blog como este é um bom passo para começar.