Resenha: Hoje eu quero voltar sozinho (filme)

“Hoje eu quero voltar sozinho” finalmente estreou nos cinemas e já aguardo o lançamento para DVD. O curta-metragem que virou longa conta a história de um trio de adolescentes: Leonardo, Giovana e Gabriel, interpretados, respectivamente, por Guilherme Lobo, Tess Amorim e Fábio Audi. Com paixões, desilusões, ciúmes, discussões familiares, independência, enfim, alguns dramas vividos por adolescentes, com a novidade: o protagonista é cego e se apaixona pelo novo colega de classe.
Poderia dizer que é um filme de adolescentes, porém diverge de alguns, como “As melhores coisas do mundo” (2010) ou “Desenrola” (2011), por vários motivos, entre eles as cenas curtas e temáticas muito mais leves. Na verdade, metade do “Hoje eu quero voltar sozinho” é composta por cenas curtas e leves demais, para não dizer morna, quase sem desenvolvimento, o que não vem a ser, de fato, um defeito. Se a intenção era de não chocar, deu certo, porque com essa tática em praticamente todas as cenas, facilitou para deixar o filme sem escândalos, exageros e sem motivos para se tornar vítima de preconceito devido as cenas mais íntimas entre personagens do mesmo sexo. Nesse caso, “cenas íntimas” não é o mesmo que “cenas quentes”, vale ressaltar.
Algumas das cenas são tão curtas que o diálogo, em algumas poucas situações, não é muito aproveitado, porém não tira a capacidade de se apaixonar pelos personagens. Giovana é a típica adolescente dramática, mas sem ser chata e irritante, e sim divertida e muito engraçada. As cenas de Leo e Gabriel são as mais bonitas; uma delas é quando Gabriel explica para colega cego como acontece o eclipse, de um amigo para um outro, simples assim. Na realidade, ambos são personagens cativantes, tanto juntos quanto individualmente. Afinal, a cegueira de Léo não é tratada como algo de outro mundo, principalmente o bullying que ele sofre pelos colegas de colégio. Contudo, a cena mais bonita, emocionante, natural e com diálogo com boas sacadas ficou para o final.
Facilmente, quem assistir ao filme, irá se recordar da pré-adolescência, das mesmas zoações, festinhas, bebedeiras, paqueras, enfim, será nostálgico. Acima de tudo, “Hoje eu quero voltar sozinho” é um filme de amizade, de bons amigos; é lindo, divertido, leve, leve, leve, aborda cada temática com naturalidade, acompanhado de uma bela trilha sonora e, no fim, com a última cena, você se apaixona. A direção e produção de Daniel Ribeiro fez um filme que desafia o preconceituoso, porque por mais intolerante que o indivíduo seja com o “diferente” não ficará chocado ou barbarizado em momento algum, e é bem possível que ele se encante ou verá que não existe nada de mais em alguém se apaixonar por outro alguém do mesmo sexo. Verá que não existe nada de mais em absolutamente nada. O longa trata os conflitos da adolescência, a cegueira e o romance gay com naturalidade, porque é isso: é natural. 

Assista aqui o cuta-metragem: Hoje eu não quero voltar sozinho

Comentários

Muito feliz em ver este blog voltando à ativa, depois de mais de um ano de recesso - e não foi por falta de insistência, neh sr. Victor :)
E o tema abordado não podia ser mais pertinente, "Hoje eu quero voltar sozinho", uma pérola de especial valor na atual safra do cinema nacional.
Muitos são os filmes brasileiros que estão estreando ultimamente nos cinemas, a sua maioria comédias descompromissadas, mas também filmes "da realidade" como "Alemão".
Nesse ponto se destaca o filme em questão. "Hoje eu quero voltar sozinho" não é apenas mais uma comédia boba ou filme policial sobre as favelas cariocas, e muito menos mais um filme adolescente repleto de clichês.
Trata do amadurecimento de três jovens como quaisquer outros, com um pequeno diferencial: um deles é cego e, se não fosse dificuldade suficiente, também se descobre apaixonado pelo novo melhor amigo.
Seu texto conseguiu transmitir bem o espírito leve e despojado da película, e seu estilo na escrita continua impecável!
Senti muita falta de mais referências quanto à trilha sonora do filme, mas ela é tão densa, bela e completa em si mesma que merecia uma postagem apenas sobre ela.
Obrigado por agraciar seus leitores com a presente publicação, por favor não demore em publicar textos novos!

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