Homenagem: Cazuza, algo a mais sobre o aniversariante do dia.

57 (cinquenta e sete) anos. Essa é a idade que Agenor Araújo de Miranda Neto, o Cazuza – ou Caju, para os íntimos – completaria hoje. O cara jovem, de 32 (trinta e dois) anos, bonito, poeta, filho de Lucinha e João Araújo, ex-vocalista do Barão Vermelho, sem papas na língua, já seria um “senhor” se ainda estive fisicamente entre nós. Mas, para conhecedores da música brasileira, essas informações listadas aí em cima, além de suas obras de sucesso, não devem ser tanta novidade. Há fatos, desde os mais bestas aos mais relevantes, sobre a vida de Cazuza que poucos conhecem. Começando pelo próprio nome.
Dona Maria, mãe de João Araújo, reclamou que nenhum neto recebera o nome de seu esposo e para agradá-la, Lucinha faz a homenagem com o filho: colocando nele o nome de Agenor Araújo de Miranda Neto. Mas o garoto só se conhecia mesmo por Cazuza, apelido que surgiu em forma de música num sonho de João Araújo, não pelo nome do avô. Nem Cazuza gostava de seu nome de batismo, que só passou a aceitá-lo quando descobriu que Cartola também se chamava Agenor. Só assim.
Cazuza teve vários interesses até chegar à música. Apreciava desenhos, geografia, quase se tornou fotógrafo profissional, tinha talento para arquitetura e urbanismo, também foi ator de teatro. Porém, nenhuma dessas atividades foi adiante. Na verdade, concluiu o segundo grau na marra e só prestou vestibular (para Comunicações) porque o pai pegava no pé. Mas logo desistiu. Ou seja, ele não era um bom exemplo no quesito escolar.
A primeira apresentação de Cazuza como cantor, vista por Lucinha Araújo, foi em uma peça de teatro, “A Noviça Rebelde”. O filho deu voz à canção “Odara”, de Caetano Veloso e perplexa, a mãe dele disse a si mesma: “Meu Deus! Esse menino canta bem e eu nem sabia!”. Em outra peça teatral, para maior surpresa dela, Cazuza não tinha falas. Ele cantava em todas as cenas que participava. Era o ator-cantor. Palmas para ele.
Aliás, foi em cena de “A Noviça Rebelde” que Cazuza revelou a sua orientação sexual aos seus mais novos amigos e parceiros de banda. Os garotos do Barão Vermelho se espantaram quando, na peça, ele “chegava por trás de outro ator e enchia uma das mãos, segurando o membro do sujeito, e com a outra sarrava-lhe o traseiro”[1]. E para os integrantes do Barão, Caju podia ser gay ou o que quisesse e isso não seria problema. Um tapa na cara de muita gente, hoje em dia.
Em julho de 1985, Cazuza foi contaminado por um vírus nos pulmões e veio a suspeita da maldita aids. O cantor fez o teste e o resultado foi negativo. Mas os médicos logo avisaram que algo de muito grave o havia contaminado, só não sabiam dizer exatamente o que era. Quando a aids já se tornava assunto corriqueiro no Brasil e até mesmo na vida de Cazuza, o exagerado não tinha mais paciência quando as entrevistas só o cercavam nessa pauta: “A aids é um complô contra a sacanagem e eu não admito abandonar a sacanagem, em hipótese alguma. [...] Mas passarinho que come pedra sabe, não é? Eu não vou ter aids!”.
Durante um show, em 1988, enquanto Cazuza cantava a canção “Brasil”, uma bandeira do Brasil foi jogada no palco. Ele cuspiu na bandeira, duas vezes. O nosso país passava por uma altíssima inflação na economia, acusações de irregularidades, além do assassinato de Chico Mendes. Cazuza foi criticado por boa parte da imprensa, mas ele afirmou que não se arrependia do ato. “A bandeira de um país é o símbolo de nacionalidade para o povo. Vamos amá-la e respeitá-la no dia em que o que está escrito nela for uma realidade. Por enquanto, estamos esperando”[2].
E atualmente? Será que em meio a (novamente) tantas denúncias de corrupção ao governo Dilma e tantos outros problemas sociais, políticos e econômicos que estamos enfrentando, Cazuza cuspiria na bandeira do Brasil? Quem sabe, até a encharcasse... Só o que eu sei é que a coragem, a atitude e o talento musical de Cazuza fazem muita falta. Muita. Talento musical talvez nem tanto assim, pois quando a música é de boa qualidade, ela é viva e eterna. Então, o que eu diria e ele agora é: Parabéns, Caju!


Referência Bibliográfica:
ARAUJO, Lucinha. Cazuza: só as mães são felizes/ Lucinha Araujo em depoimento a Regina Echeverria; projeto gráfico Hélio de Almeida. – 2. Ed – São Paulo: Globo, 2004.
NEVES, Ezequiel; GOFFI, Guto; PINTO, Rodrigo. Barão Vermelho – Por que a gente é assim. São Paulo: Globo, 2007.





[1] NEVES, Ezequiel; GOFFI, Guto; PINTO, Rodrigo. Barão Vermelho – Por que a gente é assim. São Paulo: Globo, 2007, pag. 28, 29.
[2] ARAUJO, Lucinha. Cazuza: só as mães são felizes/ Lucinha Araujo em depoimento a Regina Echeverria; projeto gráfico Hélio de Almeida. – 2. Ed – São Paulo: Globo, 2004, pag. 243, 248.

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