Então misture tudo dentro de nós (Trecho de "Muito estranho")

Os anos 1970 foram, de fato, marcados por grandes nomes do cenário da música nacional. Dalto, Hyldon, Tim Maia, Cassiano, entre outros artistas, trouxeram o que atualmente pouco se encontra na Música Popular Brasileira: letras articuladas de delicadeza e suavidade, em construção da simplicidade de metáforas que permanecem embalando beleza e romantismo. Tais características encontram-se menos ainda nas “bandinhas coloridas” e outros grupos e bandas que insistem em dizer que fazem música.
Hoje, alguns ídolos do pop/ rock nacional trazem novas roupagens de obras que fizeram a história na década de 70. Por exemplo, quem ouve Nando Reis e os Infernais cantando “Muito estranho” no novo álbum “Bailão do Ruivão”, principalmente os mais jovens, devem ficar irresolutos com belíssima canção interpretada pelo ex-guitarrista e vocalista dos Titãs. Porém, o que os mais novos não sabem ou lembram, é que “Muito estranho”, que também já foi interpretada por Simone, tem autoria de Dalto e não de Nando Reis.
Dalto Roberto Ribeiro, conhecido artisticamente por Dalto, após estrear como vocalista na década em 1974, deixou a banda Os Lobos, mas só obteve sucesso na década seguinte. Como compositor, seu primeiro êxito foi com “Bem-te-vi” em 1981, em parceria com Claudio Rabelo. No entanto, foi com “Muito estranho – cuida bem de mim”, com o mesmo parceiro, que estourou nacionalmente. Para homenagear Dalto, Nando Reis, acompanhado dos acordes de seu violão, trouxe uma nova e envolvente balada, mais acústica, para o sucesso “Muito estranho”.
Outros artistas do pop rock nacional a trazer novas versões para clássicos da MPB foram os componentes do grupo Kid Abelha, no início dos anos 90. Eles gravaram “Na chuva, na rua, na fazenda”, de mais um representante dos anos 70: Hyldon. A repercussão rendeu tanto, que Kid Abelha a regravou no “Acústico MTV”, em 2002. Além desta, o autor tem mais uma composição no repertório pop/ rock, desta vez, de Jota Quest: “As dores do mundo”, que esteve em seu segundo disco, em 1975. É fato que, ambas tem harmonia e ritmo inteiramente diferentes. Jota Quest trás o agito e vibração; e Hyldon, a melancolia nostálgica de uma época que não volta mais. Diferença nas gerações escancarada em ambas as melodias.
Ademais, poucas canções tiveram tantas novas e boas versões como “Gostava tanto de você”, de Edson Trindade, marcada no vozeirão de Tim Maia, em 1973. Embora ninguém consiga atingir tal presença de voz, inúmeros artistas o homenagearam regravando a obra.  Para o álbum “Vamo batê lata”, Os Paralamas Sucesso, com pout-porri de “Você” em 1975; os roqueiros Titãs registraram um novo embalo no ano de 1997 no disco “As dez mais”; além de Leila Pinheiro, com sua melancólica interpretação; a romântica versão de Tânia Mara e, atualmente, “Gostava tanto de você” também foi inclusa no repertório de Nando Reis no mesmo álbum citado no início do texto. Uma canção digna de tantas memoráveis homenagens.
Logo, é incontestável afirmar que a música brasileira passou por uma intensa e notória transformação. Ainda há aqueles que valorizam artistas como Dalto ou Tim Maia, com novas roupagens nas músicas para adequá-las à dinâmica atual, o que não significa que contribui para o conhecimento dos jovens. Isto é, as regravações são válidas, contanto que não tirem a identidade destas e trazem um maior conhecimento musical aos jovens. O que nem sempre acontece, infelizmente.

Comentários

Edilena Lobo diz: Tua percepção e compreensão acerca de assuntos relacionados "a boa música" é incontestável!! Serás, sem dúvida, um excelente crítico das artes...o teu texto é de altíssima qualidade, fico feliz por conhecer uma pessoa como vc e triste ao mesmo tempo por saber q o seu talento poderia estar sendo melhor aproveitado...
Unknown disse…
Parabéns Victor pelo conteúdo do blog!

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