Homenagem: O Exagerado, Cazuza

“Como pode alguém ser tão demente, porra-louca, inconsequente e ainda amar?”, questionou Cazuza, em “Bilhetinho azul”, uma das canções com o parceiro Roberto Frejat. Agenor de Miranda Araujo Neto, que faria 54 anos hoje (04/04) ganhou do pai, João Araujo, o apelido de Cazuza, que significa “moleque”. Durante a vida toda foi mesmo um “porra-louca”. 
Quando criança simulava desmaios para assustar a avó materna; enquanto jovem era um bom desenhista; mais tarde pensava ser fotógrafo, arquiteto; e ao descobrir que fora tocado pela AIDS, ao invés de se cuidar, misturava remédios com cigarro e bebidas alcoólicas. Cazuza foi um pouco de tudo: romântico, revoltado, melancólico, crítico. Um poeta de faces múltiplas inteirando numa só mente.
 “Ponto fraco”, “Vem comigo” e “Por que a gente é assim”, canções de Cazuza, Frejat e os demais integrantes do Barão Vermelho, além do amigo/ empresário Ezequiel Neves, fazem alusão à diversão, drogas, sexo e pudor. Numa mistura de metáforas, as músicas deixavam clara a relação de Cazuza, bem mais que os outros, com a maneira arriscada e desinibida de viver. Era como se houvesse uma pressa de fazer tudo o que podia e queria, unindo ao rock´roll as drogas e o sexo; justificando que naquele período os jovens eram, de fato, “canibais de nós mesmos, antes que a terra nos coma”, ou seja, acabando consigo antes que outros venham o façam por ele, e questionando-se: “Por que a gente é assim?”.
Mas Cazuza sabia ser romântico, mesmo que de uma maneira melancólica, como mostram “Preciso dizer que te amo”, “Codinome beijar-flor”, ou “Todo amor que houver nessa vida”, com uma temática sexual e, claro, “Exagerado”, já com um toque mais pop rock. Com um uso forte de metáforas, como “Que só eu que podia dentro da tua orelha fria, dizer segredos de liquidificador”, ou seja, aquilo que é dito na hora mais íntima, num segredo a dois. Além de ser bem hiperbólico: “Por você eu faço tudo, vou mendigar, roubar, matar”. Só ele, em seu extremo eu – poético, para fazer uma intensa declaração de amor como essa.
 Como muitos roqueiros dos anos 80, Cazuza também questionava as falcatruas, censuras e injustiças vivas em se país e na sociedade como um todo, muito bem explicito em “Pro dia nascer feliz”, “Blues da piedade” e o clássico “Brasil”. Mas um “eu” mais forte do que em qualquer outra música, era “Ideologia”, em que ele dizia não ter mais ideal algum de viver em detrimento da doença, como em “Meu prazer agora é risco de vida, meu sexo and drugs não tem nenhum rock´roll”. Além de “Boas novas”, encarando a doença com certa naturalidade poética, dizendo ter visto “a cara da morte ela estava viva”.
Cazuza se despediu dos fãs, se despediu da vida, em último álbum “Burguesia”, em 1989. Quis registrar inteiramente seu disco, mesmo com voz desafinada, como ele dizia, e necessitando de auxílio para a própria gravação. “Azul e amarelo” e “Quando eu estiver cantando” são exemplos que definem Cazuza a relutância e aceitação em relação à morte. Ele já esperava a recepção de Deus, como afirma nesta última. “Porque meu canto redime meu lado mau, porque me canto é para quem me ama”. E seus fãs amam o seu canto, Cazuza, indubitavelmente.  

Comentários

Não sou mt fã de Cazuza, na vdd, por toda história de vida dele, nunca gostei muito de tal cantor. Mas Codinome Beija-flor é linda, realmente, não tem como negar sua profundidade.

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