Resenha: A BUSCA - O filho fujão (filme)
Théo e Branca
são separados e pais de Pedro, de quinze anos. Logo se vê que pai e filho não
se dão muito bem, isso porque o Théo insiste em pagar para o filho uma viagem para o exterior, contra a vontade dele. Os cinco primeiros minutos,
aproximadamente, de “A busca”, de 2013, mostram que os três não têm a melhor
relação do mundo, sobretudo pai e filho. E nestes mesmos minutos, há a primeira
impressão de que o filme seria mais um dramalhão brasileiro, com cenas fortes de
sexo, drogas e palavrões. Mas o longa-metragem, protagonizado brilhantemente
por Wagner Moura, se desenvolve e comprova que me enganei completamente.
Para o desespero
dos pais, Pedro mente que iria dormir na casa de um amigo e foge de casa, mas
não a pé, de ônibus, moto ou de um carro roubado: ele foi a cavalo. Théo, como
qualquer pai que se preste, saí de casa para encontrar o filho fujão, sem se
importar com os perigos que enfrentaria. Daí prossegue a história: para onde
Pedro foi? Será que ele estava bem? Por que foi em um cavalo? Por mais que
aumente a curiosidade em saber qual o destino do garoto, também cresce, com o
decorrer do filme, o interesse no caminho que Théo percorre para chegar até
ele. E é isso o mais atraente: o caminho e os personagens que o
pai conhece para alcançá-lo.
O roteiro não é
o mais audacioso, pois há uma pista escancarada nas primeiras cenas, se for observar
bem, de onde Pedro estaria indo. Ou seja, é mais interessante saber como o pai
adquire pistas para chegar ao filho do que saber o destino dele e, talvez, qual
seria o desfecho da história, por ser bastante previsível. Com a meta de trazer
o rapazinho de volta pra casa, Théo conhece todo tipo de pessoa e passa pelas
mais variadas situações.
A minha favorita
é quando ele pede o telefone celular, daqueles “tijolões”, embrulhado com uma
capa transparente e dentro de um pote de barro, de um senhor bem humilde e
rabugento, o Custódio, para tentar entrar em contato com Pedro. Porém o idoso
não quer emprestar, mesmo que com muito dinheiro sendo oferecido, porque não
tinha crédito o suficiente e, tendo problemas de saúde, poderia precisar se
comunicar com a filha. Théo consegue o celular? Sim. Custódio vira as costas, Théo
o tira do pote de barro e saí correndo feito louco e contente pela petulância.
Pouco se tem a
falar do elenco, de tão bom que é. Wagner Moura atua de forma impagável como um
pai louco para encontrar o filho. Mariana Lima está ótima, mas é uma mãe
estranha: fica em casa esperando notícias do garoto; indubitavelmente, o oposto
do que minha mãe faria. Brás Antunes, com poucas cenas, convence de que é um personagem
adolescente de grande valor, como Pedro, sem precisar se rebelar ou de beleza física. A
participação especial de Lima Duarte é fundamental, mostrando, mais uma vez,
seu diferencial como um ator brasileiro.
“A busca” é
dinâmico, envolvente. A direção de Luciano Moura faz um filme dramático não
parecer tenso como se esperaria ser, devido ao tema, mas sim curioso e, de
certo modo, divertido, com momentos, é claro, de apreensão. Também uma típica,
curtíssima e desnecessária cena de sexo, para variar, porém sem palavrões ou
diálogos de duplo sentido. A bela fotografia e a leveza da trilha sonora
instrumental constroem o dinamismo do longa, além dos personagens cativantes,
que lembra a temática: um filme de família e para a família, sem ser pesado ou
exagerado, com a intenção de lembrar que os pais amam seus filhos acima de tudo
e querem a sua felicidade e crescimento, mesmo que nem sempre se dão o
direito de ouvi-lo, que o foi culminante para fuga de Pedro: a falta de
conversa, de diálogo. Porque, ainda que não pareça, isso faz toda a diferença em uma relação entre pai e filho. Ou, simplesmente, de pais e filhos.
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