Resenha: Os seis guerreiros da MPB - Roupa Nova (livro)
De
fato, não há nenhum usuário de drogas, homossexual, ex-presidiário ou algo mais
ou tão polêmico na vida dos integrantes do
grupo Roupa Nova. Mas não é por isso que a biografia “Tudo de novo”, escrita
pela jornalista Vanessa Oliveira, será desinteressante ou não cativará os
leitores. Também está longe de se relacionar ao “Roberto Carlos em detalhes”,
já que a escritora teve a permissão e depoimentos dos integrantes, com exceção
do baterista Serginho, que não censurou, porém se absteve de colaboração para a
produção da obra.
Sabe-se que vários artistas batalharam muito
para alcançar o sucesso que têm atualmente, e o grupo composto por Cleberson, Feghali,
Kiko, Nando, Paulinho e Serginho corrobora essa luta. Na verdade, mais da
metade do “Tudo de novo” mostra o quão eles ralaram, persistiram e ainda
assim receberam incessantes críticas da imprensa, com um álbum atrás do outro;
também que o êxito com milhões de discos vendidos só vierem mesmo a partir do
consagrado “RoupAcústico”, a qual trouxe fãs que, quiçá, nem imaginavam que existiam.
Foram recriminados, tachados de “bregas” e com “canções pobres” diversas vezes.
Ou seja, o reconhecimento só culminou com o acústico, décimo sétimo álbum, de 2007; e até
então, não mediram esforços para provar a todos e a si mesmos a força e a
imensa habilidade musical que tinham.
Vanessa
Oliveria, fã do Roupa Nova desde os sete anos, trás aos ávidos por leitura e música
uma biografia condizente com o talento dos ídolos. O maior desafio dela está na
primeira parte do livro, nomeado de “Caras e tipos”, dividido em seis
capítulos, nos quais relata o primeiro encontro de cada um dos integrantes com
a música, individualmente. E ainda que pareça um pouco repetitivo, pois é
previsível o que ocorre no capítulo adiante, há uma narrativa chamativa com muitos
diálogos, expressões coloquiais, que lembram aos contos. O tom
ficcional embrenhado no texto o deixou atraente e divertido, e cria interesse
no leitor pelas histórias do próximo personagem, sendo que cada capítulo vem com suas semelhanças e diferenças, revelando a paixão de cada um por um determinado instrumento.
O
Roupa Nova enfrentou muitas, como já mencionei, dificuldades para chegar ao
mérito que é hoje. Driblaram preconceitos, pois durantes anos não eram bem
vistos no meio musical em decorrência da sua própria origem: os bailes. Eles
começaram a carreira em bares e bailes, como diz neste trecho de "Nos bailes da vida": “Foi nos bailes
da vida ou num bar em troca de pão/ que muita gente boa pôs o pé na profissão”[1],
cantando regravações da década de 70 e 80, ainda com outro nome, Os Famks. Tiveram que
mudar estilos, repertórios, empresários, mas não escapavam das
críticas da imprensa, que os chamavam de “alienados” por não criarem letras de
cunho, por exemplo, de protesto, como faziam os demais músicos deste período; também
diziam que eram “ultrapassados”, “sem novidade”, enfim. A desaprovação da
imprensa só suavizou com o Acústico, o que rendeu, entre tantos prêmios, o de
Melhor Disco (canção popular), em 2005 e, mais tarde, o Grammy Latino, em 2012, como Melhor
Álbum Contemporâneo Pop Brasileiro, devido ao “Roupa Nova em Londres”.
O
livro “Tudo de novo” expõe histórias curiosas e divertidas sobre os intérpretes
de “Dona” e “Sapato velho”, como o fato de Nando ter sido obrigado a cantar
“Bem simples”, no primeiro álbum (1981); as mais de trinta músicas em novelas
de variadas emissores não foram o suficiente para alavancar o sucesso do Roupa
Nova; todos os integrantes negaram e resistiam bastante ao projeto do
RoupAcústico. Vanessa Oliveira, em suma, foi fiel aos relatos da vida do grupo,
especialmente no início aos meados de carreira, com uma narrativa que não
permite ao fã-leitor de fechar o livro, e os entrega uma biografia de grande
importância para a literatura e a para a história da música popular brasileira.
Além de ensinar muitas lições aos aspirantes músicos: carreira de música não é
nada, nada fácil e para conquistá-la é preciso de maestria, confiança e
persistência, como o Roupa Nova.
[1]
Música composta por Fernando Brant e Milton Nascimento, “Nos bailes da vida”.
Foi gravada pelo Roupa Nova no álbum “Ouro de Minas”, em homenagem aos artistas
mineiros (Milton Nascimento, Flávio Venturni, Skank...) e no DVD “Roupa Nova 30
anos”, com a participação de Milton Nascimento.
Comentários
Texto bem "jornalístico", bem escrito e coeso.
Vc escreve sobre livros e músicas de modo leve e despretensioso, o que fascina o leitor e o deixa curioso quanto ao assunto tratado.
Além disso, só nos deixa ainda mais empolgado na espera do próximo post!