Resenha: A datilógrafa: uma profissão nada moderna (filme)
Uma comédia
romântica “nada” moderna, “A datilógrafa” (Populaire) chama a atenção pela
sutileza e inteligência em tratar não somente uma temática comum desse gênero,
que é paixão de uma secretária pelo seu chefe, mas também o modo de como a mulher
batalha(va) para se manter no mercado de trabalho. O
filme francês, estralado por Déborah François e Roman Douris, é de 1959 e se
torna ainda mais atraente por conter cenas de situações em que atualmente já
não fazem tanto sentido.
Rose Pamphyle, a
protagonista, era o tipo de garota moderna para a sua época, que queria ir além
de se casar com o filho do mecânico unicamente porque era um bom partido ou trabalhar
no comércio do pai em uma cidadezinha da França. Beirando os anos 60, ser uma
secretária era algo tão ambicioso como fazer uma pós-graduação nos dias de
hoje, já que a mulher não tinha muitas oportunidades no mercado de trabalho. E foi o que Rose tentou ao se mudar para a cidade-grande: se candidatou à
vaga de secretária em um escritório de contabilidade. No entanto, ela era tão
desastrada quanto o autor desse texto e estava prestes a perder a vaga, mas seu chefe, Louis
Échard, lhe proporcionou uma nova chance: de vencer um concurso de
datilografia, no qual inúmeras garotas concorreriam, para permanecer no emprego. Ela poderia não ter
habilidade com papéis, telefonemas ou outra coisa do gênero, porém era de uma
velocidade incrível na arte de datilografar.
Por não ser um
longa-metragem recente, muitas cenas têm trechos curiosos ao se comparar às
mudanças sociais ou tecnológicas dos dias atuais. Rose, ou outra mulher desse período, tinha a
ambição de ser uma secretária, que era uma das funções máximas do sexo feminino no meio trabalhista, embora a personagem, sem perceber, alcançava algo a mais. Com o título “A datilógrafa” mostra-se um nível pouco moderno, afinal,
esporadicamente se encontra uma máquina de datilografar hoje em dia, porém um
Iphone até uma criança de oito anos tem um – menos eu, claro. Antigamente, as
pessoas conviviam bem sem tantos meios tecnológicos e agora ninguém anda sem um
celular/fone de ouvido ou um carregador de acompanhante na bolsa ou na mochila.
Fumar em locais
fechados é terminantemente proibido, tanto é que os fumódromos, criados, por
exemplo, em presas unicamente para fumantes, também já não são mais permitidos.
Mas em “A datilógrafa”, o patrão de Rose fumava dentro do escritório,
incomodando-a, e indiferente ao desgosto da secretária, ele rebate: “Ainda não
foi criada nenhuma lei contra isso [fumar em locais fechados]”. Por fim, o
filme nos lembra que comédias românticas não precisam ser tão clichês ou apelar
para cenas de sexo ou mesmo é regra um ator bonitão, já que Roman Douris não é lá um
galã. É uma comédia romântica que foge um pouco do comum, com uma temática de
crítica social, se for comprar com as mudanças ocorridas, com uma mocinha
ingênua, porém batalhadora e sagaz. Para quem tem algum tipo de rejeição a
filmes antigos, “A datilógrafa” alerta para abrir a mente para o novo e se dar
a chance de uma diversão tão boa quanto ao que estamos acostumados a assistir
nos lançamentos. Talvez até melhor...
Comentários
Fiquei extremamente interessado no filme, como bom amante do cinema que você sabe que sou.
Se o filme for tão bom quanto seu texto, já sei que vou ganhar o dia.
Não sabia que você se interessava por cinema clássico, ainda mais europeu. Muito bom ver que você é aberto à arte e à cultura, sem preconceito algum :)
Mal posso esperar para ler sua análise de "QUESTÃO DE TEMPO", filme que já te sugeri faz tempo.
:D