Análise: Duas músicas: homenagem aos artistas

Há duas músicas brasileiras que a letra homenageia outros artistas da música nacional (ou internacional). Elas são "Todas elas juntas num só ser" de Lenine e "Aos meus heróis", de Julinho Massari.
“Todas elas juntas num só ser” é de Lenine e Carlos Rennó e nela o narrador-personagem a oferece à mulher amada enfatizando, naquele momento, que ela é mais importante e mais inspiradora que qualquer outra moça citadas nas letras de músicas nacionais. Ele ama tanto a pessoa que varia ao afirmar que ela não se compara com nenhuma outra mulher que sempre esteve presente nas canções que tocava, e obviamente faz parte da vida dele, e que, dessa vez, ele será fiel a ela.

“Não canto mais Babete nem Domingas,
nem Xica nem Tereza,de Ben Jor;
nem Drão nem Flora,do baiano Gil,
nem Ana nem Luiza,do maior;
já não homenageio Januária,
Joana,Ana,Bárbara de Chico

O apaixonado narrador é tão exagerado na homenagem que percorre por todos os estilos musicais, desde que nas letras das canções haja alguém do sexo feminino; do nacional ao internacional:
“De Jackson do Pandeiro, nem Cremilda;
de Michael Jackson, nem a Billie Jean”

Do funk à MPB:

“e nem a namorada de Carlinhos
e nem a superstar do Tremendão
e nem a malaguenha de Lecuona
e nem a popozuda do Tigrão”

De Chico Science à Los Hermanos:

“Nem Risoflora, a flor de Chico Science,
nenhuma continua nos meus planos;
nem Kátia Flávia, de Fausto Fawcett;
nem Anna Júlia do Los Hermanos”

Mas as moças das canções são tão cativantes que o narrador admite, em um dos versos finais, que mesmo com toda a paixão pela mulher amada, ele não conseguiria, àquele dia, ser fiel a ela. E ainda admite, sendo sincero e bem sacana, que não iria traí-la somente uma vez, como mostra nos versos:
“mas, veja bem, meu bem, minha querida,
isso seria só por uma vez.
Uma vez só em toda a minha vida,
ou talvez duas,mas não mais que três!”

A música já foi gravada por Lenine, em 2004, no álbum “Lenine In cite” e no ao vivo de Ana Carolina, o “Ensaio da cores”, de 2011, numa versão ainda mais viva, tornando “Todas elas juntas num só ser ainda mais coerente”. Abaixo, vídeo com as duas interpretações:



A letra “Aos meus heróis” de Julinho Massari é uma evidente e direta crítica às músicas mercadológicas dos dias atuais, que pouco tem de poesia e beleza na produção. O autor a inicia analisando a própria situação em que só não criou mais músicas por falta de inspiração, culpando a midiatização (“acho que foi porque a TV ficou ligada”). O objetivo dele é de compor uma música “mais delicada, sem criticar, sem agredir, sem dar pancada”, porém que não seja influenciada com os ritmos eletrônicos e dançantes, os quais fazem um sucesso estrondoso em baladas.
Ele, então, cria a canção em tributo a vários grandes músicos da MPB, lamentando que os jovens prefiram ouvir somente algo agitado, com batidas, do que melodias mais bem elaboradas de Caetano e Milton Nascimento, por exemplo. A homenagem é feita através de citações de alguns dos renomados artistas da MPB, brincando com um jogo de palavras entre seus nomes e trechos ou títulos de suas músicas. Como em:
“Eu quero "a benção" de Vinícius de Morais,
O Belchior cantando "como nossos pais",
E "se eu quiser falar com..." Gil sobre o Flamengo,
"O que será" que o nosso Chico tá escrevendo”

E termina “Aos meus heróis” sugerindo ao DJ que seja mais “smart”, ou seja, inteligente ou esperto e tocar não só os ritmos como funk, forró ou música eletrônica, que, na minha opinião, não faz mal nenhum em ouvir, se não incluir na sua setlist músicas que fazem as pessoas pensarem e refletirem, sem perder a animação, claro.

“Atenção DJ faça a sua parte,
Não copie os outros, seja mais "smart".
Na rádio ou na pista mude a sequência,
Mexa com as pessoas e com a consciência”


Ao utilizar a palavra “smart” também não deixa de criticar, já que muitos dos jovens preferem ouvir, na maioria das vezes, preferem o americano ao brasileiro. E, enfim, não que tocar um “Eu sei que vou te amar” seja o aconselhável (não mesmo), mas fazer o que muitos já fazem: mixar as canções, para atrair os dançantes. Dessa forma, fará com que os jovens possam variar no gosto musical e se divertir, seja dançando até o chão com um “Show das poderosas” e indo á loucura com um “Bete Balanço”, por exemplo. Desde que se valorize tais músicos, pois estes são as maiores inspirações para os artistas de hoje, como mostram as “Todas elas juntas num só ser” e “Aos meus heróis”.
O interessante é que "Aos meus heróis" já foi gravada pelo, também, ator Chat Suede, pouco de sair do programa "Ídolos", numa versão que não fez feio à original. Também pela banda Piratas do Futuro, que reproduz músicas de outros artistas e trouxe uma ainda mais talento à obra de Julinho Massari. Abaixo, link com os vídeos com os áudios desta canção nas duas gravações. 





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