Entrevista com Gutti Mendonça, um dos autores de "Mais uma chance"

Trama juvenil com bastidores do meio musical como plano de fundo, o livro “Mais uma chance - O amor vai te buscar”, de Federico Devito e Gutti Mendonça[1], já teve espaço aqui no blog não somente por envolver a música, mas pelos conflitos maduros e pela história cativante. Em entrevista para o Outras Palavras, o autor Gutti Mendonça afirma que o escritor tem, de início, o objetivo apenas de fazer um bom trabalho e só depois alcançar o sucesso. “Porque pode não parecer, mas são coisas distintas. Em um mercado tão concorrido, é difícil destacar algum trabalho, por mais que seja de qualidade”, explicou, ressaltando que ele e Federico estão escrevendo, individualmente, um novo livro. “Fazer o quê? Gosto de escrever”.
A ideia do “Mais uma chance” veio do próprio Gutti, com o final todo já em mente e, junto com Federico, elaborou uma história que pudesse chegar a este fim. Na opinião de Gutti, foi fácil e também difícil desenvolver uma ficção na qual os bastidores da música fazem parte de um dos cenários principais, já que o objetivo era desenrolar uma narrativa em que grande parte dos personagens seria famosa, para emitir naturalidade e maior identificação com os leitores. Para isso, muita pesquisa foi feita, pois, além de música, há um meio jornalístico e um rural, com especificidade em árvores e cavalos, as paixões dos protagonistas. “Não existe nada pior que escrever besteira; então, tivemos que pesquisar e tomar muito cuidado com o que registrávamos. Às vezes empacávamos em alguma passagem relacionada às arvores ou cavalos, mas espero que todos tenham gostado. Assim, mostramos o quanto os personagens estavam enraizados naquele lugar”, explicou.
Aninha, uma fã incomum, e Davi, o irmão de dois dos integrantes da banda Mega Watz, são, para mim, os personagens mais interessantes de “Mais uma chance”. Gutti conta como eles surgiram: “No caso de Aninha, queríamos fugir do estereótipo da fã, que grita, persegue e é alucinada pelo ídolo; preferíamos uma fã diferente, mais contida e menos eufórica. Já com Davi, precisávamos de uma trama para mostrar que nem tudo são rosas e por um conflito, que é fundamental para a história, do contrário perderíamos muito altos e baixos”, esclareceu Gutti. Ele também conta que tiveram cautela por terem Davi como conflito, para que ele não tivesse características de um vilão, e, no fim, acabou ganhando a simpatia dos leitores.
O “Mais uma chance” foi escrito por uma dupla de autores e, de acordo com Gutti, isso facilita no momento de dar nome aos “bois”, ou seja, nomear aos personagens, banda, árvore, cavalo, que normalmente é o mais complicado quando se faz sozinho, mas se for em companhia há contribuição nas discussões e questionamentos. Já o mais divertido é ver a sua obra ganhando vida. “Quando você está escrevendo e você pensa: ‘Fulano vai fazer isso’ e logo em seguida pensa: ‘Ele não pode, jamais faria isso’. É quando você vê, os personagens tomaram vida e você passa a agir praticamente sozinho. Você acha até engraçado, pois parece que o seu controle sobre a história diminui e os personagens a levaram para um rumo natural”, analisa Gutti.
Algo perceptível e, para mim, intrigante, em “Mais uma chance” é o excesso de discurso direto, ou seja, de diálogos, travessões. Praticamente todos os tipos de descrições foram postos na “boca” dos personagens. Gutti argumenta que, para o público dele e de Federico, essa seja a melhor forma de se trabalhar. “Acabamos descrevendo muitas coisas no próprio diálogo, a leitura flui melhor forma. Não concorda? Muitos leitores e resenhas disseram que imaginavam o ‘Mais uma chance’ como um filme e acreditamos que seja justamente por causa dos diálogos e a descrição das reações e expressões de cada um durante estes”, justificou o escritor. 
O livro traz um CD com três músicas de estilo pop rock (uma reflexiva, outra num estilo farrista e outra bem melancólica), fazendo-nos esquecer de que a Mega Watz é uma banda fictícia, o que tornou a história mais verossímil ainda. Fato que não passou pela minha cabeça é que o vocalista das músicas é João Cortês, o ruivinho engraçado que paquerava moças bonitas nas propagandas da Vivo, que é primo de Gutti Mendonça. “A sugestão veio da gravadora. ‘Pow, o livro fala de música, banda, etc. que tal fazer um CD?’ Compramos a ideia”, contou Gutti, que dividiu com João a composição das letras.
Perguntei à Gutti Mendonça o que ele aconselharia aos jovens que almejam, assim como eu, escrever um livro. E ele, com exemplos bem práticos, respondeu: “Escrevam. Quando você quer ficar fortinho, sarado, o que você faz? Vai à academia todo dia, ‘no pain no gain’[2]. Quando você precisa passar no vestibular, o que você faz? Estuda que nem um condenado, sem vida social. Se quer ser um bom escritor, tenha o hábito de escrever frequentemente. Pratique. E nem preciso falar que ler bastante vai ajudar nisso, né?”. Ficou a dica.



[1] Também dividem a autoria do livro “O preço de uma lição”
[2] Tradução: Nada se consegue sem trabalho

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