Outras versões: hits (ou não) do axé music

Fevereiro. Nesse período, normalmente, eu já estaria em Breves e com meu abadá em mãos, pronto para o carnaval. Uma das melhores partes da festa, para mim, é curtir as músicas que a banda toca no palco ou em cima do trio enquanto os brincantes saem pulando, cantando, gritando, bebendo e se agarrando pela avenida. Mesmo gostando das marchinhas, o gênero que eu realmente curto é o "axé music", o qual está comemorando trinta anos em 2015. Apesar das críticas sobre esse estilo devido ao conteúdo que há na maioria das letras, já que elas só tratam de farra e movimentos dançantes, também há canções que vão além do cunho carnavalesco.

 Michael Sullivan e Paulo Massadas são uma dupla de "hitmakers", ou seja, são dois produtores de sucessos musicais, mais precisamente dos anos 70 aos 90, como “Whisky a go go”, “Deslizes”, “Abandonada”, respectivamente, com o Roupa Nova, Fagner, Fafá de Belém. Eles também foram os criadores de um grande sucesso do “axé music”: “Amor perfeito”, gravada por Roberto Carlos, em 1986, no seu LP homônimo. Bem mais tarde, ela foi incluída no repertório de bandas como Chiclete com Banana e Babado Novo (foto ao lado, de 2004), quando Bel Marques e Claudia Leitte ainda eram vocalistas destas. “Amor perfeito” teve roupagem em outros estilos e em outros idiomas; como o “dance mix” de Adriana Garcia, o romantismo na voz de Marina Elali, o lado gospel com Mara Maravilha e a versão metade brasileira e metade israelense com a dupla Gê Cardoso e Lilach Davidoff, a qual foi trilha sonora da novela “Caras e Bocas”, de 2009/2010.

“Chorando se foi” também se tornou um destaque e tanto do “axé music”, com Ivete Sangalo, na faixa bônus ao vivo do álbum de 2005, “As Super Novas”. Contudo, a canção passou por outro gênero até chegar ao trio elétrico. A versão original é “Llorando se fue” do andino Los Kjarkas num ritmo que eu nem imaginava a existência, o “saya”. Aqui no Brasil, “Chorando se foi” teve gravação em 1986 no ritmo da lambada, com um gingado diferente e mais sensual – com a cantora Márcia Ferreira. Mas o sucesso, de fato, foi em 1990 com o grupo Kaoma, que levou, também, a música “Lambada” para o mundo afora. Inclusive, já houve briga judicial entre Márcia Ferreira e Kaoma, pois o grupo não deu os direitos autorais à compositora e primeira intérprete de “Chorando”, que, no fim, venceu o processo. A paraense Fafá de Belém, o ex-Titã Nando Reis (junto com Banda Calypso), o forró de Calcinha Preta e até a americana Jeniffer Lopez (feat Pitbull), com “On the floor”, já estouraram a famosa lambada “que um dia só me fez chorar”.

Porém, a música que me faz pirar, gritar e pular feito louco na avenida (ou em qualquer lugar que toque) é “Eva”, que também já teve várias interpretações. Na verdade, essa canção é originalmente italiana e foi gravada e criada por Umberto Tozzi, em 1986, com muito romantismo. Aqui no Brasil, ela teve explosão com o grupo de pop rock Rádio Táxi, em 1983, numa balada romântica semelhante à verdadeira; e onze anos depois, Ivete Sangalo, ainda na Banda Eva (foto ao lado), a interpretou e se tornou meio que um hino para a própria banda e para o axé em si. O curioso mesmo é a letra de “Eva”, que trata do “fim da aventura humana da Terra” e o narrador pretende “fugir” com a sua amada na “Arca de Noé”, pois é o “final da odisseia terrestre”; ou seja, o cara quer fugir, literalmente, do fim do mundo com sua mulher.

“Eva” varia das inúmeras letras do axé, pois, mesmo que implicitamente ou de forma metafórica, mostra que não é algo tão incoerente nos dias de hoje, afinal, com tanta violência e injustiça ocorrendo no mundo, qualquer um tem a vontade de fugir daqui; e isso é expresso com muita energia, com folia ou não. E ano que vem, se Deus quiser, quando meu pulmão estiver em forma, estarei em Breves para me divertir com esses e todos os demais hits do axé “music” e do carnaval como um todo, na avenida ou em cima do trio. Porque nessa época do ano “o melhor ainda é pular no meio povo”. Então, aproveite, seja lá como for!