Análise: As mulheres nas canções (01)

O ser mais merecedor de reconhecimento e valorização; além de muita empatia, carinho e, acima de tudo, respeito. Refiro-me às mulheres, que têm o dia 8 de março dedicado internacionalmente a elas. Pretendo, a partir de hoje, homenageá-las aqui no blog, com um pouco de tudo que escrevo, mas principalmente com música. Reconheço que já se passou mais de duas semanas do dia exato, no entanto nunca é tarde para realçar a significância da mulher na sociedade e de como ela está presente na nossa cultura. Pode ser nos títulos ou nos conteúdos das letras, elas são destaques em uma quantidade enorme de canções brasileiras e nos variados gêneros. Uma delas é “Janaína”, do grupo de rock Biquini Cavadão.

Diariamente a mulher luta pelo seu espaço e independência para se manter, por exemplo, no mercado de trabalho e alcançar todos os seus objetivos. A música “Janaína” reflete a rotina dessas belezuras em forma de gente, mostrando que vão á labuta com muita garra, mas sem perder o brilho e a alegria de viver, como no trecho: “Dentes e sorrisos soltos, que escapam do seu rosto”. A personagem feminina da canção de Biquini Cavadão pode muito bem retratar o cotidiano de uma médica, pronta para atender seus pacientes; de uma professora, ao dedicar horas do seu tempo para levar conhecimento aos alunos. Mas também serve para diaristas ou empregadas domésticas, cuja função é de organizar a nossa casa e, praticamente, a nossa vida. Além de serem, na maioria das vezes, companheiras e amigas; e no caso da minha, também para falar bobagens, fofocar e fazer rir.


               Lançada em 1998 pelo álbum “biquini.com.br”, “Janaína” é um dos principais hits do Biquini Cavadão, com o saxofone de George Israel, do Kid Abelha, que dá mais energia à melodia e com uma letra que foi, de acordo com o vocalista Bruno Gouvêa, dedicada a todas as mulheres, mas inspirada em uma, especificamente. Na verdade, o nome dela era Jersi, de 60 anos, e foi empregada doméstica da família de Bruno desde que ele era criança. Ela explicou como chegava tão cedo ao trabalho, já que havia uma longa distância entre os dois endereços: ela “acorda todo dia às quatro e meia”. “Isso foi o ponto de partida para escrever a letra, falando sobre a batalha de cada mulher, que sempre acredita no seu sonho”, explicou o músico[1]. Ou seja, encaram um ritmo pesado, às vezes com dificuldades ou com grandes conquistas, contudo, tem a meta que boa parte da população tem: “que um dia a gente há de ser feliz”.


                    A sensualidade e o erotismo, embalados de muita poesia, também são temáticas nas letras de nossas músicas brasileiras envolvendo o sexo feminino. “Vitoriosa”, de Vitor Martins e Ivan Lins, de 1985, mostra uma mulher que é, digamos, invejada pelo homem devido a todos as suas qualidades, mas, sobretudo os atributos carnais. O início da letra desse clássico da MPB apresenta a mulher como alguém que vê a vida com alegria e otimismo: “Quero sua risada mais gostosa, esse seu jeito de achar que a vida pode ser maravilhosa”. Mas no decorrer da obra, de forma direta e objetiva, descreve-a no auge do seu prazer sexual, num período em que não era nada comum simbolizá-la dessa forma: “Quero sua alegria escandalosa, vitoriosa por não ter vergonha de aprender como se goza”.
“Sem dúvida nenhuma ainda não era comum falar disso em música quando fizemos ‘Vitoriosa’”, disse Vitor Martins, um dos compositores da canção, para o livro “A História Sexual da MPB”, de Rodrigo Four. “Era uma época em que a mulher estava querendo se satisfazer plenamente ao sexo [...] Quis representar nesta letra a mulher em sua plenitude”, dissertou Vitor Martins[2]. Aliás, “Vitoriosa” - que já foi interpretada brilhantemente por Simone - e “Janaína” - em que Bruno Gouveia já cantou ao lado de Alinne Rosa, quando ela ainda era vocalista do grupo de axé Banda Cheiro de Amor – não são as únicas canções de, respectivamente, Ivan Lins e Biquini Cavadão que abordam o universo feminino. Nem são os únicos da nossa música nacional. No fim do próximo mês, mais um texto como esse para vocês, leitores ;)

Referências:
http://www.biquini.com.br/discografia/musica/detalhes/OTc=/biquini.com.br/janaina#.VRR07fzF8xU
http://www.biquini.com.br/discografia/musica/detalhes/OTc=/biquini.com.br/janaina#.VRSbpvzF8xU
http://letras.mus.br/ivan-lins/46452/



[1] MÚSICAS, Making of. Extras. DVD Biquini Cavadão Ao Vivo. 2004.
[2] FAOUR, Rodrigo. A História Sexual da MPB: a evolução do amor e do sexo na canção brasileira. 4ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2011. Pag. 204, 205.

Comentários

Parabéns às mulheres pelo dia que passou, sem esquecer que Dia da Mulher é todos os dias.
E parabéns a você tbm, sr escritor, por reconhecer o valor das mulheres em nossas vidas e homenageá-las de modo tão singelo e significativo.
"Janaína" é uma música que eu sempre escuto no rádio, e sempre me agradou. A luta diária da personagem-título reflete a luta diária de todas as mulheres batalhadoras desse Brasil, que lutam pela felicidade - nos fazendo felizes também. Não sabia que era uma música do Biquini Cavadão. Sempre aprendo coisas novas aqui em seu blog.
Tudo de bom pra vc na faculdade e no blog. Ansioso pelas próximas análises culturais! Abraços.

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