Conto: O término

Conto inspirado na canção "Pra terminar", de Herbert Vianna. Essa música já foi gravada por Ana Carolina, Biquini Cavadão e pelo próprio compositor.

Desgastou. Após quatro intensos anos de namoro com Luna, infelizmente, o nosso relacionamento chegou ao fim. Nós dois já havíamos percebido, mas só me dei conta do quão estávamos distantes quando Luna pediu "um tempo"; para nós dois, para o nosso namoro. Por gostar muito de Luna, aceitei, embora eu soubesse que dar um tempo não resolveria nada. O correto seria terminar logo de uma vez.
Durante esse “tempo”, assisti a uma cena que não me agradou nem um pouco. O que algumas pessoas já haviam me dito – e eu não queria acreditar – era verdade: Luna estava se envolvendo com outra pessoa. Ela andava de mãos dadas com ele. Um rapaz, aparentemente, mais velho e evidentemente mais feio, porém, com ou sem beleza, ela o beijou. Ou seja, nosso namoro tivera um fim e eu nem sequer fiquei sabendo. O tal "tempo" havia acabado junto com o namoro.
Chamei Luna, então, até a minha casa. Precisávamos de uma conversa definitiva em respeito a nós dois; a mim, sobretudo. Afinal, mesmo “dando um tempo”, vê-la com outra pessoa não me agradava. A minha intenção era criar um jeito mais rápido pra por um ponto final em tudo. Assim, nós sofreríamos pouco. Ou o contrário. 
Logo que Luna chegou em minha casa, deu-me um selinho e perguntou o que eu queria conversar com tanta pressa. “Pelo telefone você parecia sério, Beto”, ela observou. Sentamo-nos no sofá da sala e a olhei com seriedade. “Eu tenho que ser objetivo”, pensei, “para eu sofrer menos”. E perguntei:
- Luna, acho que essa história de “dar um tempo” não dá muito certo, não é?
- Acho que sim, Beto. – concordou, sorrindo sem graça. Já sabia a que eu me referia.
- Bom, então vamos lá. Quero ser breve. – continuei, tentando encontrar as palavras adequadas. - Acho que nós devemos terminar.
- Olha, Beto... Você tem certeza do que tá dizendo?
- Tenho, Luna. Os motivos são vários. Pra começar... – respirei fundo, fechei os olhos e voltei a falar: - Eu quero dizer algo que você já sabe: o nosso amor chegou ao fim.
- Como você pode dizer isso? – ela perguntou. Pra mim era fingimento.
- Como você pode dizer o contrário? – inquiri, mas ela não tinha respostas. Não havia respostas para aquela pergunta. – O nosso namoro acabou. Simplesmente acabou.
- O nosso namoro acabou, mas e o amor? – Luna insistiu.
- Não pergunte isso. Também não me pergunte se ainda há amor em mim. Eu não saberia e nem quero tentar explicar. Não quero responder. – respondi. O assunto em si já me cansava.
Luna anuiu e cerrou os lábios. Até que ela, enfim, perguntou:
- Você decidiu isso sozinho, sem saber a minha opinião? Você não está sofrendo nem um pouquinho com o término do nosso namoro?
- Olha, Luna, - sorri, de leve - pra te enganar, ou a mim mesmo, escondo no sorriso a dor. Mas pior que isso, foi te ver passar na rua com...
- Com o quê?
- O certo seria “com quem”. – concluí.
- Beto, me desculpe. - pediu, encabulada.
- Você não tem que pedir desculpas, Luna.
- Tenho sim. Eu deveria ter te contado, deveria ter sido mais sincera com você e...
- “Mais sincera” não. Você deveria ter sido sincera, algo que você não foi. – falei o que estava engasgado.
- Beto...
- Eu ainda tenho umas coisas a dizer, poucas... – Luna se calou e me ouviu – Luna, se eu te encontrar na rua, por aí, em qualquer lugar, pelo menos por enquanto, não me pergunte como tô, ou, talvez até, nem fale comigo. Vai ser melhor.
- Mas por que tudo isso, Beto? 
- Porque pra mim... Pra mim, esse amor ainda não terminou. Por mim, na verdade, nem teria fim. Mas o fim já chegou e isso já está evidente, pra nós dois. 
Um silêncio esquisito firmou-se por alguns segundos, até eu quebrá-lo. Eu queria terminar logo. Mas era difícil.
- Bom, Luana... Pra terminar... Pra terminar mesmo, tem mais uma coisa.
- O quê?


Olhei-a nos olhos e ela retribuiu o olhar penetrante. Luna sabia o que eu queria com aquele olhar. Nos beijamos. Beijamo-nos com ardência, como se fosse a nossa primeira vez. Mas era a nossa última vez. O último beijo. Por isso nos beijamos por muito mais tempo, como se nada mais existisse. Quando, na realidade, o que não existia mais era o nosso namoro; o que não significava que não havia mais amor em mim. Em nós. Como eu disse, pra mim ainda não terminou...




Comentários

Nay Amaral disse…
Ameiiii meu amigo!
Muito interessante seu texto, bem escrito e, como sempre, acompanhado de boa música.
Os leitores desse blog tem sorte pois no mesmo lugar encontram excelentes textos e grandes canções.
A reflexão que a crônica proporciona é muito boa. Muitas vezes é melhor terminar uma relação, mesmo que isso não signifique sofrer ou amar menos, mas sim para manter o respeito com o próprio e com si mesmo.
Anônimo disse…
Adorei Victor.
Embora seja dificil ler, pois estou passando por situação parecida.
Mas foi uma leitura muito boa!
Ja estou seguindo seu blog.
Anônimo disse…
Victor você tem um talento incrível, um texto melhor que o outro. Tenho um super orgulho por te ter como amigo.
Quem nunca sofreu por amor ne?? Quem nunca se desiludiu ??? Vivemos em busca de um Amor verdadeira.
Vanessa disse…
Nossa.... to até sem palavras!
Já me emocionei logo na primeira palavra,olha o título Término. =/ Foi até difícil eu ler também....
Essa história de ainda não terminou,é a pior coisa que fica. Coisas mal resolvidas.
E as músicas...ahhhhh eu adoro a Ana Carolina,sou doida por um show dela sentadinha assistindo :)
É lindão,você cada dia melhor nos textos,nas palavras que orgulho de você! Muito sucesso meu querido amigo!
Victor sou teu fã, meu caro. Fico feliz em ver a evolução que vens tendo com autor.
Unknown disse…
Sou fã número 1! Texto envolvente e criativo, como sempre. Um grande abraço meu brother!

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