Resenha: "Barão Vermelho", entre páginas e discos

De todas as biografias musicais que já li, “Barão Vermelho – Por que a gente é assim” (São Paulo : Ed. Globo, 2007) é bem peculiar e, talvez, a mais curiosa, e não exatamente pela banda de rock protagonista, mas pela narração e estética. Para começar, o livro é escrito por um dos integrantes, o baterista Flávio Augusto Goffi, o Gutto; o produtor musical do Barão, Ezequiel Neves, que faleceu em 2010, e o jornalista Rodrigo Pinto. É para quem curte música, rock, e principalmente aos leitores mais práticos e objetivos, que não precisam se preocupar com um texto tão intenso e detalhado.
“Barão Vermelho – Por que a gente é assim” é diferente de “Titãs – A vida até parece uma festa”, de André Luiz Alzer e Hérica Marmo, que relata a história de cada um dos titãs desde antes de criarem a banda, com quase 400 (quatrocentas) páginas e o mínimo de fotos. Já o livro dos interpretes de “Bete Balanço Abandonado” e “Por você” conta a partir do momento em que Maurício Barros e Gutto Goffi, tecladista e baterista, respectivamente, tiveram a ideia de formar a banda de rock. Ponto. Era isso. Os autores descartaram fatos como a infância dos músicos; sendo pragmáticos e direcionando para o que importa: o Barão Vermelho.
A banda formada, inicialmente, por Gutto Goffi, Maurício Barros, André Palmeira, o Dé (o baixista), Roberto Frejat, (na guitarra) e Cazuza (como vocalista), em 1981, corrobora dois fatos. O primeiro: mesmo esquisitos, os nomes de bandas de rock tem sentido; para os Maurício e Gutto, “rock é atitude e sobrevivência e voavam alto” [pag 12], daí decidiram que “o aviador alemão Manfred von Ritchthfen, inimigo número 1 dos aliados da Primeira Grande Guerra, batizasse o grupo com o seu codinome: Barão Vermelho”. Confirma, também, a situação dos músicos daquele período, de que o trabalho é árduo e a glória demorava a ser alcançada. Na verdade, essa situação pouco mudou. A diferença é que, se antigamente com todo o suporte das rádios, televisão e a indústria fonográfica em alta já havia dificuldade; atualmente, com a pirataria em voga, o download e o pop rock lutando por um espaço, a persistência para o sucesso no meio musical apenas cresce.
Ressalta-se que só no terceiro LP, o “Maior Abandonado”, em 1984, o Barão Vermelho teve um número maior na vendagem, a ponto de garantir um disco de ouro. Contudo, o gênio difícil de Cazuza começava a se mostrar, até noticiar: sairia da banda. Eles ficaram sem o vocalista e sem um dos principais compositores; porém, como se pôde perceber, não estancaram aí, embora os desafios só aumentassem. O Barão, indubitavelmente, é uma das bandas de rock  mais importantes da década de 80. No entanto, não distribuiu numerosos hits, não coleciona prêmios e, como a maioria, houve trocas de integrantes. Segundo o trio de autores, os barões enfrentaram o fracasso de perto, e o venceram com bravura. E para não cair na decadência, com direito a algumas pausas para que todos pudessem se dedicar a projetos individuais, voltam a se reunir quando há necessidade; como a comemoração dos anos de carreira, em 1013, por exemplo.

O livro “Barão Vermelho – Por que a gente é assim” trás mais que a narrativa do início, meio ao ano de 2007. A obra é abastecida de fotos dos integrantes, em preto e branco, várias seguidas; além de, entre um capítulo e outro, uma curiosidade da banda ou de uma música, reportagens antigas, artigos, enfim. A biografia não se prende aos detalhes, mas nem por isso é incompleta. Ela é chamativa pela banda em si, pela capa e pelo folhear das páginas. É fácil convencer o leitor; com um texto direto, bem objetivo e ilustra os olhos com imagens aos montes. Sem contar que conhecer profundamente um dos componentes da música brasileira enaltece seu o apetite musical, nesse quesito. Sem contar que viver o rock nacional em páginas de uma biografia é empolgante. E como disse Ezequiel Neves: “Um ano de rock é igual a mil anos de vida! [pag 303]”.

https://soundcloud.com/victor-almeida-147/billy-negao

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