Pessoal: Nostalgia Musical Brevense (01)

“Hoje eu acordei, pro seu retrato na parede eu olhei...”[1]. Essa pode ser uma simples frase para quem não é paraense ou até mesmo brevense, mas se for, não somente vai reconhecê-la, como vai lê-la cantando e possivelmente vai bater uma nostalgia. “Ah Victor, mas eu sou do rock, não suporto brega!”. Okay, roqueiro, okay. Mas não negue que conheça essa canção, ou que ela deve ter feito parte da sua infância/ pré-adolescência e ou que deve ter servido de cupido para os seus “esquemas”. E há exatos dez anos, nesse mês de Maio, que vim morar em Belém, e tem certas músicas que ouço e só me recordo dos meus 16 anos vividos em Breves. Os gêneros musicais são vários, porém nessa postagem vou começar por este que os leigos temem em confundir com o forró: o brega, do Pará.


Banda Calypso, Cia. do Calypso e Banda Sayonara são algumas das bandas de bregas que já marcaram presença em Breves inúmeras vezes e no caso dessa última, o brega é mais romântico, de dançar mais coladinho, de influência latina, e sem o bate-cabelo da Joelma. A maioria das letras é de um eu-lírico apaixonado, que sofre por um amor fracassado e/ ou que vai dar a volta por cima. Por exemplo, eu dei a volta por cima (mentira) e te digo que “Quem não te quer sou eu, meu coração dilacerou/ e tudo se perdeu, você teve a chance de ter um romance, mas machucou, magoou, morreu...”[2] ou eu admito a fossa e peço que “antes que a tristeza e a saudade/ matem de uma vez meu coração, volta amooor”[3]. Ouvir essas músicas deve fazer muito brevense lembrar de uma noitada do Papy Dance Club (nos tempos áureos) e/ou na Casa da Seresta – até porque quase todo ano a Banda Sayonara está em Breves -, onde você puxa a “pequena” pra dançar ao som de “Você nem sequer pensou em mim/ você nem sequer pensou em nós/ você foi muito egoísta, sim/ você só pensou em siiii...”[4].

Há bregas mais agitados, de letras sem sentido algum (“Agora tudo o que eu quero é dar a minha "baladeira" por ai com uma "libreira" qualquer”[5]), mas a vibe é mais romântica hoje - se quiser chamar de “sofrência”, fique à vontade. - O fato é que temos bregas com letras marcadas no romantismo. Você pode, por exemplo, pedir pra voltar pro/ pra “ex” assim: “Grito por seu nome sem parar, sem saber onde vou/ te amo e peço pra voltar, pelo nosso amor”[6]. Ou você diz à pessoa que tem algo diferente no ar, ela vai perguntar o que é e você dirá: “Está no ar e vou declarar todo esse sentimento que até hoje guardei por você...”[7]. Ou se, de repente, você tá tão desesperado(a), deixe o espírito de “malaco jurunense” te incorporar – musicalmente, claro – e diga pro “crush”: “Eu sou ladrão/ Eu sou ladrão, meu bem, e vou roubar o seu coração”[8]. Mas se você não tá a fim de ninguém e quer mais é que o grudento(a) saia do seu pé, então cante pra ele(a): “Problema é seu por ter se apaixonado por mim/ bem que eu avisei que eu sou assim desligada”[9]. Tá, vou parar. Até porque tá dando vontade de beber e não tem ninguém pra tomar uma comigo...


Eu saí de Breves, mas Breves não saiu de mim. Vim pra Belém repentinamente para morar com a minha tia e meus primos e estudar no Sophos. Pensei que eu não faria amizade nenhuma e não ia me dar bem no meu novo colégio. Enganei-me bonito. A saudade que eu tinha dos meus amigos e da família era imensa e eu sofria com isso. Hoje, eu moro com a minha mãe e irmã em Belém, mas ainda tenho amigos e familiares em Breves. Então, motivos para passar as férias lá não me faltam. E cada vez que ouço um brega eu me empolgo, começo a dançar (tudo errado) e cantar daquele meu jeito esquisito e autêntico de ser que fazem as pessoas rirem de mim, principalmente se for um brega que não se ouve mais com frequência. Como por exemplo, tente ler sem incluir o ritmo: “Eu sou brasileiro/ brasileiro da Amazônia/ brasileiro sonhador/ Sou brasileiro e do Pará tenho tempero/ de Belém eu tenho cheiro, sou Norte com muito amor...”[10]. Aliás, essa música, especificamente, me lembra da época em que eu estudava no Colégio Santo Agostinho, quando a antiga Banda Dom Supremo a tocava e o colégio todo ia à loucura. Mas isso já é história para uma outra postagem... ;)

Não esqueça de deixar seu comentário aqui em baixo :)



[1] SOLIDÃO. Banda Sayonara.
[2] QUEM NÃO TE QUER SOU EU. Banda Sayonara.
[3] VOLTA MEU AMOR. Banda Sayonara.
[4] TARDE DEMAIS. Banda Sayonara.
[5] ME LIBERA. Nelsinho Rodrigues.
[6] PALAVRAS. Marcelo Wall.
[7] ESTÁ NO AR. Banda Fruto Sensual
[8] MELÔ DO LADRÃO. Wanderley Andrade
[9] O PROBLEMA É SEU. Banda Floresta Nativa
[10] LA MAZON. Edilson Moreno.

Comentários

Anônimo disse…
Meu Pai do Céu ..! Quantas lembranças boas me passaram agora na cabeça... Nem vem que eu não consigo ler todos esses bregas sem incluir o ritmo ou a melodia. Cada trecho de brega, eu cantava inevitavelmente kkkkkkkkkkkkkk Égua do texto Pai'dégua!! Arrasou mais uma vez . Excelente. Cris Acioli.
Unknown disse…
Calamba. Me deu uma Saudadinha de casa. Amei. Primoroso como sempre
Marcos Guerra disse…
Cara, só um texto cativante como esse pra me fazer chegar aos comentários sem perder uma virgula sequer. Parabéns Victor!
Tuas postagens sobre música sempre fazem sucesso por aqui, e com razão. Sobre esse assunto vc fala com o coração, deixando seu dom natural com as palavras ainda melhor. Não cheguei a ouvir o suficiente alguns dos bregas q vc citou, mas outros realmente me fizeram voltar aos tempos da boate Le Max de Belém.

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