Resenha: A nova geração pop nacional. Vocês conhecem? (2)
Graças a Nossa
Senhora das Notas Musicais, o cenário musical brasileiro não nos permite cair
no marasmo. Artistas das mais diferentes vertentes surgem e nos apresentam sua
maneira poética de musicalizar. E para quem sabe apareciar o que há de bom na
nova geração pop, compartilho com vocês, lindos leitores, duas novas
bandas: 5 A Seco e Aliados.
Como o nome já
sugere, 5 A Seco é composto por cinco integrantes:
Pedro Altério, Pedro Viáfora, Tó Brandileone, Vinicius Calderoni e Leo
Bianchini. O primeiro trabalho do grupo foi com o DVD “Ao Vivo no Auditório do
Ibirapuera”, em 2009, e em 2013, o “Policromo”, em estúdio, os quais têm
composições autorais, mas o meu vício tem sido o álbum “ao vivo”. 5 A Seco é musicalidade
sem rótulo realmente definido, pois a MPB deles bebe na fonte do indie rock, do samba de raiz e do
pop e resulta numa novidade musical que o Brasil estava precisando. A mistura
de ritmos é a essência do quinteto, em sintonia com a letra poética, que adere às figuras de linguagem, jogos de palavras e coloquialidade.
As letras românticas e a melodia
suave estão espalhadas pelo “ao vivo”, mas “Em paz” e “Pra você dar o nome” são
duas que nos afundam na melancolia. “Em paz” tem uma cadência zen e recebe
Maria Gadú no vocal principal, mesclando o estilo dela com o dos rapazes,
tranquilizando até as almas mais tumultuosas quando a ouve. O refrão “Você,
beleza rara de se ver/ Mágica música no tom/ uma escultura de Debret/ o meu
poema de Drummond” é uma das mais criativas descrições de amor. “Pra você dar o
nome” é a pura fossa, no ritmo, letra e no soar dos violões. O personagem prefere se distanciar da amada, deixando-a livre, se for o caso, nos braços de outro qualquer, mas vê-la
feliz, pois está ciente que o caso deles é incerto. Ainda assim, admite que o
desejo é outro: “Quero é te ver/ dando volta no mundo indo atrás de você, sabe
o quê/ e rezando pra um dia você se encontrar e perceber,/ que o que falta em
você sou eu”. E músicas como “Gargalhadas” e “Feliz pra cachorro” se aproximam
do samba e do indie, estimulam a alegria e a reviravolta em situações
complicadas de formas divertidas. Em “Feliz pra cachorro”, por exemplo, compara
a felicidade com futebol e diz, no refrão, que a felicidade é tanta que
incomoda os outros e o personagem rebate: “Quero ver quem vai me impedir/ se
sorrir do Pari até o Pará”.
A banda de pop rock Aliados é formada por Fildzz, Dudu Golzi, Rafa Borba, Oliver Kivitz desde 2000, com 6 CDs e 3 DVDS ao vivo, mas o álbum que mais escuto é o último, de 2014, “Inoxidável”. O som é mais pop ao rock, e as letras, assim como algumas do Capital Inicial, não tratam apenas do sentimento amoroso, mas de energia positiva, força de vontade e das atitudes do indivíduo, de modo geral. “Tudo sempre volta” e “No seu coração” são as mais bonitas e, também, as mais bem produzidas, com a fórmula certa para se tornarem hits. Em “Tudo sempre volta” o personagem leva a vida com paciência e dedicação, e dá sempre o seu melhor no que faz. Já “No seu coração” é explicitamente romântica, na qual o personagem estimula a pessoa amada a não ter medo de se relacionar com ele. Essa canção me atingiu em cheio desde a primeira vez que a ouvi no rádio. O refrão é direto: “Você me quer e eu te quero também/ mas o medo de errar nos afasta/ Fechar os olhos não adianta, eu sei/ pois saiba que eu vou estar sempre ali no seu coração”.
A maioria das canções de Aliados tem um quê reflexivo, de modo que o personagem aconselha ou puxa a orelha do outro. Em “Pra ser feliz”, com a participação de Di Ferreiro, há uma mensagem otimista, com apologia à fé, à paz, ao amor, como no trecho “Não perca a fé/ reze pra Deus iluminar/ todo o caminho por onde eu passar”. “Acorda pra vida” vai para aquelas pessoas que pararam no tempo, sem ambição ou que não se esforçam para crescer e se tornarem alguém melhor: “O tempo passa e só você não vê/ Aonde vai você/ que já não sabe aonde quer chegar?”.
5 A Seco e Aliados ainda não tem verdadeiras obras-primas, porém o trabalho deles tem singularidade e personalidade e merecem nossa atenção e respeito, pois não são simplesmente ótimos profissionais. A nova geração do pop rock e da MPB (ou do samba) apresenta um trabalho mais leve e jovial; ainda assim, compará-la com a produção musical da década de 70 e 80, por exemplo, é covardia, pois essa nova geração perderia uns pontinhos devido ao contexto social e político vivido em épocas atrás, que inspirava os compositores nas suas obras tão engajadas politicamente e o mercado não era tão competitivo como é atualmente. Enfim, a música brasileira pop contemporânea é rica em qualidade e se você acha o contrário, tudo bem, mas nunca pense que a música brasileira perdeu seu potencial. É triste pensar assim.
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