Curiosidades: Canções Nacionais Para Os Namorados (1)

O dia dos namorados só será na segunda-feira, 12, e eu sei que meus lindos leitores não estão desencalhados como eu – ao menos a maioria -, por isso farei duas postagens para romantizar a data. Uma delas é hoje, com um trio de músicas nacionais dedicadas aos axaponados e a outra será no dia 12, com um conto novo. Pois bem, o que mais temos na música brasileira é o romantismo, declarações de amor das mais originais às mais clichês, porém há algumas que servem como uma trilha mais específica para quem vai passar o dia acompanhado. Cada uma delas de um período diferente. Então, bora ser feliz com essas canções?

A primeira delas é Minha namorada, do poeta e diplomata Vinicius de Moraes, em parceria com o violonista Carlos Lyra, isto é, a época marota da Bossa Nova. Nos álbuns Vinicius e Caymmi no Zum Zum (1965), Vinicius: Poesia e Canção (1966) e Vinicius (1967), essa obra versa as condições de um poeta à sua pretendente caso ela queria namorá-lo. Inicia-se com um Se você quer ser minha namorada... e daí vão as exigências típicas de namoro qualquer, como a fidelidade total (Você tem que me fazer um juramento/ de só ter um pensamento/ ser só minha até morrer) e jamais perder a doçura (e também de não perder esse jeitinho/ de falar devagarinho/ essas histórias de você). Até que, na segunda estrofe, propõe-la em casamento como se ela fosse a maior interessada, exigindo, do jeito mais fofo que só a Bossa Nova faz, uma fidelidade ainda maior, já não usando tanto o diminutivo como na estrofe anterior, como só um cara romântico que já passou por 9 casamentos como Vinicius para criar. Os consagrados Maria Bethânia, Fábio Jr, Toquinho, Tim Maia, Francis Hime e também os jovens eloquentes Ribas enamoraram os versos E você tem de ser a estrela derradeira/ Minha amiga e companheira/ No infinito de nós dois. Porque a Bossa Nova era uma verdadeira aula de como se tratar bem uma dama.

Vamos saltar para os anos 80, especificamente para 1985, no disco Educação Sentimental, do Kid Abelha e os Abóboras Selvagens com Os outros, composta pelo Leoni. Essa canção, a que mais agita o meu coração solitário, tem uma letra com tom de despedida, como se o casal já estivesse separado talvez nem reate mais (Eu tenho mil amigos/ mas você foi o meu melhor namorado), porém o eu-lírico feminino se declara afirmando que tanta gente já se esbarrou pela vida dela e ainda assim ele foi o mais significante, dos amigos, dos namorados. Na versão pop original do Kid quase não se percebe a melancolia da letra, somente na versão ao vivo com Leoni e seu violão (ou como essa do Kid no vídeo acima) que o lamento pelo distanciamento dos dois é percebido. Em Os outros, a personagem conta tudo o que aprendeu e amadureceu ao lado do namorado (Eu sei bem mais do que antes/ sobre mãos, bocas e perfumes), que mesmo em outro relacionamento o ex permanece nela (A minha vida continua/ mas é certo que eu seria sempre sua/ quem pode me entender) e finaliza com o verso que é o tiro certeiro para deixar qualquer um com a cabeça zonza: Depois de você, os outros são os outros e só.

A última canção é mais recente, de 2010, do álbum Feito pra Acabar, de Marcelo Jeneci. Dar-te-ei, composta por ele, Helder Lopes e Verônica Pessoa, é um diferencial não somente pelo uso esporádico da Mesóclise, ou seja, situação gramatical em que só pode ser utilizada quando o verbo fica no futuro do presente ou do futuro do pretérito do indicativo (como o próprio nome da música, Dar-te-ei), algo incomum na cordialidade, mas também porque a letra percorre pela visão não-materialista de um jovem apaixonado, em que, numa ocasião indeterminada, os presentes que ele pode dar a ela não serão bens materiais porque são objetos que se desgastam, se perdem rápido (Não te darei presentes, não te darei/ pois envelhecem e se desbotam) e o melhor que ele pode presenteá-la não é com flores ou bombons (Não te darei flores, não te darei/ elas murcham/ elas morrem// Não te darei bombons, não te darei/ elas acabam/ elas derretemé algo que, de alguma forma, se torne eterno, que possa se sentir, não ter, como no refrão:
Dar-te-ei finalmente os beijos meus
Deixarei que esses lábios sejam meus, sejam teus
Esses embalam, esses secam, mas esses ficam


Um poeta da Bossa Nova; um hitmaker dos anos 80 e uma das mais atuais revelações da MPB, cada um de uma época diferente, porém que ainda se entrelaçam devido à qualidade nas suas obras, tornando-se o antigo e o novo num só sentido, e o passado e o presente fluindo ao futuro. Um pedido de namoro ou casamento, o lamento pelo fim de um relacionamento e a prova de que os momentos e os sentimentos são mais reais do que qualquer produto material foram os devaneios para a criação dessas canções e é o que marca as histórias mais apaixonadas. Um dia, quem sabe, eu encontre alguém para homenagear com uma dessas músicas ou com uma composição própria, mas enquanto esse ser misterioso não brota na minha frente, eu desejo aos meus lindos leitores um feliz dia dos namorados e à Andreza Paixão, minha amiga que leva esse belo sentimento no sobrenome, um feliz aniversário. Ela não poupa palavras para me divulgar nas redes sociais, nem tempo para me fazer companhia em intermináveis conversas. Parabéns, minha amiga, que luz, bençãos, abraços, beijos, livros e músicas sejam constantes presentes na sua vida. 
E, você leitor, que tem sua alma gêmea, desfrute da companhia e namorem bastante...

Comentários

Enquanto não encontro a alma gêmea, vou me divertindo com as erradas
kkkkkkk
Brincadeiras à parte, vc sabe que sou um sentimental como vc que tenta esconder isso a todo custo. Gosto mt desse tema, e como sempre me fascino com suas sugestões de músicas.
Ler vc falando sobre Os Outros é um show à parte, isso já nos rendeu grandes conversas hehehe. Senti falta de All Star, por sinal ;)

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