Crônica: Sala de aula

Fiz 28 anos ontem (pareço ter 23 ou 25, eu sei, mas aceitem meu rostinho de adolescente), 29/11. Cantaram “parabéns” pra mim na sala de aula, como já aconteceu há muitos anos no CSA[1], MCP[2], Sophos e Unama, porém com um diferencial. Quem cantou os “parabéns” não foram amigos e/ ou colegas e um professor. Foram alunos. Meus? Mais ou menos. Acontece que Rafa (Gonçalves), minha amiga e colega de turma da UFPA, era minha parceira na oficina da disciplina Ensino e Aprendizagem II - ministrada pela inspiradora professora Célia Zeri -, na Escola Mário Barbosa. O assunto que o professor Edinaldo Pimentel nos permitiu a conduzir foi “Prosa e Verso” pra turma do 1° ano do Ensino Médio. Ele nos apresentou à turma, entregamos um questionário, perguntamos aos alunos que tipo de leitura faziam e quais músicas escutavam. Foi bem rápido. Somente quase duas semanas depois Rafa e eu iniciamos. Seriam apenas dois dias de oficina.
No primeiro dia, eu seria o professor titular. Rafa faria algumas observações. Entregamos aos alunos (cerca de 12) uma crônica do Luís Fernando Veríssimo (que eu quase não gosto), a A aliança. Lemos, debatemos, expliquei sobre as características da prosa, explanei sobre contos, crônicas, novelas e romance, personagens de ficção. Tudo com a interação total dos alunos. Não vi o tempo passar. No final, Rafa me abraçou e disse que fui sensacional. Ou o calor afetou os neurônios dela ou eu realmente me saí bem. Os alunos ainda pediram que viéssemos um dia a mais... Na oficina em que Rafa foi a titular, entregamos duas letras de música para o estudo do verso: Deixei-me ir, de 1 Kilo e O homem que não tinha nada, do Projota, pois alguns alunos gostavam de rap (eu aprendi a gostar). A Rafa, eu posso dizer que, foi sensacional. E meus neurônios não foram afetados pelo calor.
No terceiro e último dia, levei dois livros (Inseparáveis, porque eu tenho que me divulgar, e Antes de dormir, de S. J. Watson) para premiar aos alunos que produziram os melhores textos que pedimos como exercícios, além dos 3 pontos extras que eles ganhariam. Os poucos alunos que estavam em sala seriam liberados mais cedo, porque a escola estava sem água. Mas mesmo assim eles ficaram até a hora em que fomos embora, assistindo e participando inteiramente da oficina, cujo material teve Sexa, do Veríssimo; Natasha, da banda Capital Inicial e Quem não te quer sou eu, da banda Sayonara. Para a maioria das perguntas acertadas eu dava marcadores de livros (que peguei aos montes da Livraria Leitura). Era uma loucura. A participação deles foi desenfreada. Estavam ainda mais entrosados conosco. Dessa vez, o professor Edinaldo não esteve presente. E, quase no fim, Rafa anunciou: “O Victor tá fazendo aniversário hooooje! Vamos cantar parabéns pra ele?!" Depois da cantoria empolgada, eu perguntei: “O que vocês acham de uma selfie?”. Foi uma baita animação!
De presente de aniversário, eu ganhei uma realização. Uma segurança. Firmeza. Finalmente eu me senti à vontade exercendo algo que será minha futura profissão, como jamais aconteceu em jornalismo. Claro, até essa oficina na Escola Mário Barbosa frequentei outras escolas como palestrante e até como escritor convidado (Escola Manuela Freitas, Augusto Meira e José Bonifácio), que foram fundamentais para minha segurança, amadurecimento e alegria. Mas agora eu me senti, de fato, como professor. Me imaginando aprendendo, errando, ensinando, tendo as maiores experiências em sala de aula, compartilhando com alunos tudo o que a leitura e a escrita podem nos trazer de conhecimento, podendo contribuir positivamente de alguma forma na vida dos alunos, com aulas inovadoras e culturais. Só aos 28 anos eu pude me sentir realizado numa graduação, em uma função, além da de escritor. E creio que me realizarei ainda mais quando estiver trabalhando, em sala de aula, como professor. Porque, acreditem, eu estou doido pra que esse dia chegue logo! Já pensou? Professor Victório? E publicando vários livros? Mas eu tenho que agir para que tudo isso aconteça. Então torçam por mim, gatíssimos, porque eu tô torcendo por vocês! E muito o-bri-ga-dooo!




[1] Colégio Santo Agostinho.
[2] Maria Câmara Paes

Comentários

Célia disse…
Consegui vivenciar cada sentimento, transportei_me em suas palavras e senti que de algum modo faço parte desse discurso, deve ser por isso que ainto-me realizada na profisao. Parabéns à dupla!

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