Entrevista com a fotógrafa Adriana Sena
Adriana Sena |
Foi
assim com a fotografia, eu decidi seguir a jornada ouvindo a voz que vem de
dentro.
Ser
um profissional da fotografia não é simplesmente pegar a máquina fotográfica,
arrumar uma boa posição e pronto: “Click!”. Fotografar é um trabalho artístico.
Adriana Sena de Souza Martins, de 31 anos, é fotógrafa há mais de 2 anos e
sabe muito bem do que eu tô falando. Não é “só tirar fotos", pois carrega
uma mensagem abarrotada de significados para que quem cruzar seu caminho
entenda seu propósito: “Fotografia é uma forma de você viver pra sempre. Não é apenas
sobre congelar o tempo, é sobre materializar histórias”, derrete-se Adriana.
Ela
não esquece de jeito nenhum o momento em que se percebeu como fotógrafa, quando
disse “sim” à fotografia. Seu filho – na época, com seis meses – e a
convivência com seus familiares a impulsionaram a levar a arte de fotografar
como uma profissão. Esperta e criativa, Adriana transformou os registros em
família na sua fonte de renda.
O
mais significativo de tudo foi que, a partir da minha experiência de ter
todo o cuidado em registar nossos melhores momentos juntos, pude
compreender a riqueza que esse registro pode conter. Fotos narram histórias e
atravessam gerações. Eu gosto de proporcionar isso à minha família, porém, mais
que ainda: me senti na obrigação de ajudar as pessoas a construírem histórias
para gerações, assim como eu. Foi aí que decidi investir e levar pra minha vida
essa profissão que tanto me encanta.
OS
ENSAIOS
Foto: Adriana Sena |
Essa história foi muito significativa por todo o contexto que envolve superação, força, fé, esperança, que estão amarrados a um acontecimento antigo vivido por uma cliente: uma perda irreparável de seu primeiro bebê - não nascer. Tudo foi preparado com muito carinho e cuidado para que ela pudesse viver uma experiência única e amorosa. E assim foi.
Assim
como eu, Adriana é das antigas, do tempo que se tinha que escolher entre um
“filme” de 24 ou 32 (poses) fotos, além do cuidado ao fotografar para que
nenhuma foto queime na hora de se revelar. Hoje, temos o poderoso suporte da
tecnologia. De certa forma, Adriana ainda se considera viver nos anos 80/ 90, já que, mesmo diante de todos
os avanços tecnológicos, para ela, nada supera o grau de importância que
carrega uma foto revelada. “Entre tantas experiências que me fizeram evoluir
nessa área, concluo que a ferramenta mais poderosa a preservar nossas histórias
- dentre as tecnologias e ferramentas digitais - é o papel, a tinta, a textura,
o palpável”, explica Adriana.
Eu,
como fotógrafa, ajudo pessoas a preservarem suas memórias, construindo um
legado, a se conectarem por meio do que amo fazer. É muito mais do que
transação, eu sou guardiã do meu cliente, e isso tem feito nosso negócio
alavancar nos últimos meses.
Fotografar
– aprendi ainda mais com a Adriana - também é contar histórias, é uma maneira diferente
e única de narrar fatos especiais, épicos. Foram histórias de superação,
conquistas, amor incondicional que Adriana já vivenciou como fotógrafa. Uma
delas foi com um grupo de mulheres que estavam em tratamento contra o câncer. Elas a
fizeram crescer como pessoa, abriram sua visão, mostraram que a essência
é o que realmente vale nessa vida; e é preciso cultivar e transmitir isso
enquanto em vivermos. Lindo, não?
A
essência está lá, no fundo da alma. É preciso resgatá-la e trazê-la à tona. Foi
aí que comecei minha navegação em águas desconhecidas, me permitindo fazer
mergulhos profundos para descobrir o que ninguém sabe. Tocar o intangível e
tornar essencial aquilo que realmente importa.
Com
mais de 2 anos de carreira, tantas vivências, tantos lindos feedbacks, altos flashes
e zoons, Adriana ainda sente um friozinho na barriga quando surge um
novo trabalho. Um aspecto seu que ela considera um defeito é a insegurança, que
a irrita um bocado, mas já está trabalhando nisso: “Quando estou desanimada, eu
não tenho muito a fazer, apenas espero o tempo de a tempestade passar e aos
poucos vou me renovando. Isso inclui estudar, que é uma das coisas que mais
amo, me traz inspirações e energias para continuar com todo o gás”.
Adriana Sena |
Falando
nisso, Adriana – como já deu pra perceber – ama fotografar, mas ser fotografada,
aí já outro paaapo... Ela, na verdade, prefere selfies, justamente
porque ela pode se ver. Adriana alega ser muito exigente consigo; gosta de se
olhar nas fotografias e se sentir como uma deusa grega, pleníssima: “Isso
ocorre quando a pessoa que me fotografa entende a geometria do meu corpo e me
posiciona da melhor forma possível. Tem a ver com intimidade, conexão,
comunicação e sensibilidade”, explicou a profissional da fotografia.
PANDEMIA
Quanto tudo isso acabar, não serei a mesma, não voltarei para o mesmo lugar, estou a um passo à frente. Digo isso que tirei um tempo para pausar, pra descansar, refletir, me conectar comigo mesma, aprender coisas sobre mim, me desvendar, criar o novo, encontrar minha essência.
Um
momento desafiador na vida de Adriana e de inúmeros artistas no Brasil é e tem
sido a pandemia, causada pela praga da Covid-19. Num país em que a arte tem um
valor exíguo, volta-se àquele clichê, como Adriana pontua: “É na dificuldade
que somos mais fortes”. Segundo ela, a arte nos ensina a crescer, mesmo que
sozinhos; e com sonhos – por vezes – isolados, temos escolhas a fazer. Ela
ainda garante que evoluir sempre será o caminho mais difícil e doloroso, mas
necessário.
Adriana
relembra que no começo da pandemia quase se desesperou, pois, no ano retrasado,
prometeu para si que 2020 seria um ano de crescimento, de evolução. De um jeito
ou de outro, foi sim: “Não parei; apenas respirei, desacelerei, olhei para o
mundo, pra dentro de mim, em busca de respostas coerentes para meu negócio,
para que meu trabalho fizesse a diferença na vida das pessoas e fizesse do
mundo um lugar melhor”. E, tenha certeza disso: deu e está dando mais do que
certo, gatíssima!
Comentários