SALA DE AULA (3)

 

Turma ENF. MA.22

“Escolhi jornalismo porque gosto muito de ler, escrever e de me comunicar. Adoro falar com pessoas, me expressar... Adoro gente!”, descrevia-se Cintia Rodrigues, toda alegre, no início do curso de jornalismo (2008)[1]; e eu me perguntava: “O que eu faço aqui, então, se eu morro de vergonha/ medo de falar em público... Eu não gosto de gente?!”.

Catorze anos mais tarde, cá estou, atuando como professor na ESAMAZ TEC, em turmas de Administração e Enfermagem. Chega a ser bizarro imaginar que aquele cara extremamente inseguro, nervoso, ansioso, de fraquíssima autoestima e vestido de timidez se tornou professor. Não é o Victor de antes, mas a essência do rapaz tímido permanece viva. Tá fantasiado de Victor Victório.

 Meio perdido no (meu) mundo, me formei em Jornalismo; já pouco perdido nesse mesmo mundo, me formei em Letras – Língua Portuguesa. Mas se tive êxitos na minha segunda graduação, devo à escrita: encontrei minha liberdade como contista/ cronista e poeta no meu blog, ganhei leitores, escrevi um livro, ou seja, tive aceitação do público; isso me deu ânimo e coragem para declamar meus poemas em vídeos e publicá-los nas redes sociais. Adquiri meu amor próprio, segurança, maior facilidade em me comunicar e de falar em público; me tornei o comunicador que tá no meu diploma. Fui aceito por mim mesmo. Ou seja, tá aí Victor Victório. Isso tudo só ajudou pra que eu me desse bem (entre tantos aspectos) em Letras e me tornar um professor didático, prático, humanizado, acessível e despojado. Sou sempre assim como professor? Não, infelizmente, não.

Ser professor não é ser escritor/ comunicador; são funções/ profissões diferentes. No entanto, eu – percebendo ou não – uni os dois, fiz do Victor Victório também um docente – percebendo ou não – para me deixar mais confortável, natural e porque... eu amo esse Victor. Ainda assim, noto a cada aula o desafio de ensinar e ser ensinado; os receios, falhas e inseguranças voltaram – sem nunca terem ido embora. Em outras palavras, esse Victor Victório que eu tanto abracei tá se desequilibrando. Ele não é um sinônimo de perfeição, mas me agarrei no conforto que ele me dava, ou melhor, me escondi por trás de uma máscara sem confetes. Levar o escritor/ comunicador pra dividir a mesma mesa com o professor me ajuda muito, mas também pode me confundir e, consequentemente, me arrastar pra um “outroeu” que nunca deixou de existir. É um desafio diário. E posso dizer que tá dando gosto de ser desafiado... por mim mesmo.

Em todas as turmas que leciono, de quase 30/ 35 alunos, há pelo uns 15 jovens tímidos, envergonhados, inseguros... São os mesmos adjetivos do Victor de anos e anos atrás. Ixi! Me vi neles em vários momentos! Sei que todos têm seu tempo, mas quero muito que eles cresçam e percam essa insegurança. Sei, também, que não vai ser fácil, porém espero que eles me deem a chance de ajudá-los nesse processo. Mesmo após o fim da disciplina, esses estudantes de ensino técnico terão o apoio de um professor que, no primeiro dia de aula, declama e interpreta um poema de sua autoria para a turma. É um professor-poeta? Um jornalista-professor? Um docente-comunicador? É tudo isso junto e cada um no seu canto - e ainda é aluno! - Eles se desgrudam e se complementam. É um cara que quer ser tudo e mais um pouco, ainda que nem sempre dê conta de si, que quer ser aceito... por si mesmo.

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O texto acima foi escrito um mês atrás porque a minha psicologia pediu (pela terceira ou quarta vez) pra eu me expressar na escrita. Mas escrever requer tempo e uma intensidade que já vinha me esgotando, por isso eu evitava. E nesse exato mês, lecionar tem me ensinado bastante; tem me cansado também, porém me ressignificando, me tornando mais humano, no sentindo de que tô andando ao lado das minhas “falhas” e dos meus “acertos”; no sentido de que eu sei que sou um bom professor, e haverá dias que serei ótimo, mas haverá dias que... nem tanto assim. Mas isso a gende deixa pra outro texto...

Encerrei hoje a disciplina de Técnicas de Comunicação com a primeira turma de Enfermagem que tive. Trabalhar com eles (e com as outras) despertou o Victor de antes, sacudiu o de hoje e me leva pro Victor de amanhã. Eu sou muito grato por isso, sério. “Nós aprendemos muito, professor. Sua missão foi cumprida com a gente. Deixou o seu legado”, declarou a aluna Adriele Correa (responsável pelos quitutes semanais da sala) no fim da aula. A minha missão ainda tá sendo cumprida, queridíssima - de um jeito singular, que eu vou entendendo aos poucos. E se eu marquei a vida deles, eles também marcaram a minha. Lecionar é marcante demais, na verdade. Que Deus me dê saúde para deixar o (professor) Victor Victório em sala de aula por muito tempo.  



[1] Minha colega de turma na UNAMA (2008) que, em pouco tempo, seria uma das minhas maiores amizades do curso.

Comentários

Unknown disse…
Nossa chorei. Teacher sucesso , continue sendo essa cara que não cansa de ser descobrir, e busca sempre melhorar como ser humano ♡ gratidão pelos seus ensinamentos, sempre que os medos me assombrarem vou reler seus post,pois vc é uma referência pra gente..
Tayná Neves disse…
Ao ler esse post, só consigo sentir gratidão, como aluna da sua primeira turma do técnico, digo que tivemos perdas e ganhos, perdemos a vergonha, perdemos o medo de expor nossos pensamentos e assim de nos expor também. Entretanto, ganhamos muito mais do que perdemos, ganhamos conhecimento, ganhamos desenvoltura, vivacidade, experiência incríveis, ganhamos palavras novas e te ganhamos, foi um enorme prazer partilhar momentos com você, mesmo que fosse em um curto período de tempo !
Esse módulo já encerramos, o professor Victor não temos, mas temos o vitinho rsrsrs quando digo te ganhamos, ganhamos um amigo Mara ❤️‍�� você foi um professor incrível, e com certeza continuará sendo, espero eu que as outras turmas te aproveitem mais do que nós aproveitamos. ❤️‍��
Ainda bem que ganhamos muito ao te ter conosco ❤️‍�� obrigada Victor Victório, vulgo vitinho ������

Obs: ganhamos poesias também ❤️‍����uma melhor que a outra, confesso.

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