Renato Russo, só por hoje

Com a razão e a emoção ele criava suas canções, e as transmitia por uma voz gravemente sutil e única. Falo de Renato Manfredini Junior, conhecido como Renato Russo, que faria hoje (27/03) 52 anos. Junto com Dado Villa-Lobos, Marcelo Bonfá e Renato Rocha, os parceiros da banda de rock mais influente dos anos 80, a Legião Urbana, Renato Russo expressava em suas composições o que queria dizer com franqueza e sapiência o comportamento e os sentimentos dos jovens daquela e de qualquer época. Era o que não tínhamos coragem ou nem sabíamos como dizer, através de suas músicas. Dois exemplos são “Quase sem querer” e “Meninos e meninas”.
Esta primeira pode ser analisada no ponto de vista dos jovens, dos adolescentes, que passam pela melhor, mas que para eles é, muitas vezes, a pior fase; cheia de dramas e conflitos, indecisões e desventuras. Afinal, qual é o jovem que não anda sempre “distraído, impaciente e indeciso”? Porém, quando um simples acontecimento surge, ocorre a mudança de humor e torna-se “diferente, tranquilo e tão contente”. Nem tudo é tão fácil e também tão difícil. Tudo só acontece.
Aliás, não precisa ser adolescente para notar, em “Quase sem querer”, as mancadas e os tropeços que levamos para chegar ao topo. Renato chama atenção ao lembrar que o nosso melhor deve ser feito por e pra nós mesmos e não para provar aos outros que podemos ser melhores que eles ou que estão errados, ou seja, “não é necessário provar nada pra ninguém”. E que há casos em que querendo enganar aos outros enganamos a nos mesmos, ou por insistir em algo que não somos demoramos a notar que “mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira”. É melhor ser sincero consigo mesmo para que tudo fique mais transparente.
Falando em “mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira”, Renato Russo fez praticamente um desabafo em “Meninos e meninas”, assumindo sua bissexualidade. A letra é o tipo de conversa que está entalada na garganta, que se demora a dizer, mas que no final, solta o verbo, porque o que ele quer mesmo é se explicar, parar de se esconder. Há trechos em que isso fica claro e evidente.
No começo, um turbilhão de dúvidas é cifrado em “quero me encontrar, mas não sei onde estou”, e que quando vê que não há dúvidas nesses sentimentos, se conforma e deduz que “vai ver é assim mesmo e vai ser assim pra sempre; vai ficando complicado e ao mesmo tempo diferente”. É como se o mundo girasse contra e ele quisesse apenas ser ele mesmo, e pede apenas para “deixar como viver é bom, não é a vida como está e sim as coisas como estão”. Logo inicialmente, na verdade, deixa claro do que se trata, mas conclui novamente como se tivesse obrigação ou por, no final, não ter vergonha alguma, de que ele “gosta mesmo é de meninos e meninas”.
Os sentimentos de solidão são expressos em “Angras dos Reis”, uma lição de vida em “Mais uma vez”, a revolta em “Que país é esse”, o realismo em “Por enquanto”. Enfim, parabéns ao Renato Russo pela vivacidade, atitude e o talento sem tamanho. E mesmo com tanta bobagem que a música nacional vem nos empurrando como enlatados atualmente, ainda não é, de fato, tempo perdido. Porque quem é bom permanece vivo sempre, e nesse caso o "pra sempre" não acaba.

Comentários

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Cara, Renato Russo é a alma eterna do Legião Urbana.
Com uma voz mt bacana e letras verdadeiras, tornava qualquer canção simples num verdadeiro clássico.
Índios, Eduardo e Mônica, Pais e Filhos... As minhas favoritas canções brasileiras. Não conhecia Meninos e Meninas, tentei escutar mas não curti a letra nem a batida, enfim. Talvez o tema pudesse ter sido melhor explorado, sei lah... não senti a profundidade q tem Pais e Filhos.
Mas seu texto faz jus ao grande mestre Renato Russo e sua obra brilhante, keep writing!

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