Resenha: a biografia fictícia de Rita Lee, a alucinada rainha do rock (livro)

Eu sei que fica meio repetitivo se eu disser que biografia da cantora Rita Lee é a mais diferente de todas as que já li. Mas sim, ela se diferencia de todas as demais e há um bom motivo pra isso. “Rita Lee mora ao lado: uma biografia alucinada da rainha do rock” (Penda Books, 2006), escrito pelo músico Henrique Bartsch (1951-2011) não só retrata a vida da artista, como também revela um pouco dos bastidores da indústria fonográfica. Porém, o que realmente muda o foco do leitor é a forma de como ela é narrada: através de ficção. Isso mesmo, uma biografia em moldes fictícios. Esquisito, né? Um pouco. Mas é isso que deixa o livro divertido.
“Rita Lee mora ao lado”, que já deu origem ao musical homônimo, conta, na verdade, a história de pequena Bárbara Farniente. Ela era uma garota gordinha, desengonçada, que pouco se valorizava, irônica, além de tantas outras características que a tornavam muito engraçada. Bárbara e sua família, principalmente a garota, gostavam de bisbilhotar a casa ao lado, onde morava Charles e Cheza Jones, com suas três filhas travessas: Mary, Vivi e Rita. “Travessas” seria um apelido, pois as três eram umas pestes, especialmente Rita, de quem Bárbara pagou ódio por ter sofrido poucas e boas nas mãos dela. Por exemplo, a nada comportada Rita fazia brincadeiras com que, no final, seu mijo fosse bebido por Bárbara. E essa urina acabou se tornando um traço das personagens com o decorrer da história. Rita era realmente pirada.
Mesmo com toda a raiva que nutria por Rita, Bárbara também tinha uma forte ligação com ela e ambas estavam em sintonia, ainda que a futura rainha do rock nacional não percebesse isso. Bárbara, às escondidas, ouviu toda a conversa dos Mutantes, logo em seus primeiros momentos de sucesso e teve contato com diversos ícones da música, como Guilherme Araújo e Raul Seixas (1945-1989), além de ter trabalhado com João Araújo (1935-2013), diretor da Som Livre e pai de Cazuza. O destino era tão brincalhão, que Bárbara jamais teve a chance de assistir a um show sequer de Rita Lee, seja com os Mutantes ou em sua carreira solo - não que a protagonista realmente quisesse ter visto -, e os motivos eram os mais bizarros possíveis. Ter se agarrado com um músico debaixo do palco foi uma dessas bizarrices. Mais louco ainda foi a insatisfação de Bárbara: o cara tinha o pau pequeno. Decepção. 
Por fim, apesar de relatar muito sobre a vida de cantora de “Ovelha negra” e “Amor e sexo”, há uma incógnita no “Rita Lee mora ao lado: uma biografia alucinada da rainha do rock”: até onde os fatos são verídicos? Afinal, a história toda é relatada por uma protagonista fictícia e, pelo visto, somente a relação com Rita Lee e tudo que percorre o meio musical tem sua veracidade. É uma biografia que às vezes nem lembra que é uma biografia. A ficção impera, por muitos capítulos, à realidade. Isso, no entanto, não é algo negativo. Porque além do conhecimento musical que se adquire com a leitura do livro de Henrique Bartsch, também se desfruta de uma ficção quase fantástica, que vaga por casos do cotidiano aos bem sombrios e inimagináveis. É uma ficção com toque de realidade. E sobre ler esse livro, agora só falta você ;)

Comentários

Biografia fictícia é algo no mínimo inusitado, e você resenhou o livro de modo tão fluido e gostoso que aumenta ainda mais a curiosidade por lê-lo!
Num período em que biografias vem sido combatidas por certos cantores brasileiros famosos, esse livro é uma brisa de ar fresco no mercado editorial do ramo.
Só faltou incluir na matéria o clipe de alguma música da Rita Lee, como já é tradicional em suas postagens. Vc acostumou mal seus leitores, então lembre-se disso da próxima vez o/ hehehe

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