Crônica: Os "bons gatilhos" trazidos na série "Love, Victor"

 

Eu simplesmente não conseguia parar de assistir à primeira temporada de Love, Victor (2020), produzida pelo streaming HuluÉ uma série spin-off do filme Love, Simon (2018)[1], que meu amigo James Cruz me indicou no ano passado, mas só agora assisti. Pra quem é gay e teve uma adolescência (meio) conturbada, com alguns conflitos internos e externos, vai se identificar bastante com o personagem principal, cujo nome é o mesmo que o meu. O melhor de tudo é que Love, Victor trata de questões fortes, como a descoberta da própria homossexualidade, de modo sutil e leve. Ou seja, a série me relembrou de muitas situações da minha adolescência, mas sem me trazer gatilhos. E isso é insólito.

O meu xará da série - interpretado por Michael Cimino - caía em algumas ciladas. Uma delas é com a família e com parentes – sim, pois parente nem sempre é família. Victor se via encurralado quando os avós estavam por perto, além de seus pais, claro. A dúvida era: como “defender a causa” sem demonstrar que é gay e não rolar treta? Caro hetero, agradeça a Deus (ou a si mesmo) por não ter que passar por uma saia justa dessas com seus parentes. Quando se é um gay mais velho, de seus 30 anos ou mais, quando todos ou a maioria já sabe, não é mais (tão) pesado (assim); porém quando se é adolescente e tu ainda não entendes da própria sexualidade... É ruim pra caramba! É uma confusão interna que chega a doer. O viado sofre, viu?

Outro ponto que Love, Victor me faz voltar ao tempo foi: namorar uma garota, gostar dela, de beijá-la... Mas não sentir vontade de transar. Ela quer sexo, tu não e tu não queres magoá-la, porém também não quer ferir a si mesmo. A gente fica numa encruzilhada... Bem, nesse caso, eu fui um pouco diferente do personagem, já que nas poucas três vezes que namorei garotas eu não fui lá um bom exemplo de fidelidade, sobretudo para as duas últimas - e eu dizia estar apaixonado. O mais doido é que eu as traí com... garotas. Sim, eu tive uma fase hetero, até. Hoje em dia, eu... Nem sei dizer, já que nunca mais tive um relacionamento sério e eu me tornei um sem-vergonha; quase um personagem das canções de Pablo Vittar. Mas parei. Sério. Parei.

Outro ponto que foi delicado por longos anos que Love, Victor também retrata: revelar-se gay ao melhor amigo. Lááá atrás, com exceção de uma amiga, todas as vezes em que eu contei sobre mim, as reações foram de cair o queixo, de tão tranquilas. Eu sempre ficava tenso, nervoso, aflito pra contar e – graças aos céus – era à toa, porque meus amigos foram fodásticos. A cena da série me lembrou bem quando eu disse pela primeira vez a um amigo de Belém: eu tava mais nervoso do que quando apresentava a um seminário. Ele teve que comprar água de coco pra eu me tranquilizar. Fui/ sou um privilegiado com as minhas amizades, posso dizer assim.

Por que esse nervosismo todo? Porque a gente sempre tem a sensação de que vai ser rejeitado, justamente por sempre ser rejeitado; e eu nem tô me referindo somente aos parentes, vizinhos, colegas, professores, mas sim à sociedade como um todo. Pior é quando a gente também se rejeita em detrimento do meio social, o que ocorre bastante na adolescência. Love, Simon mostra isso, e a Love, Victor mais ainda. Eu as indico aos dois públicos: tu, que é gay/ lésbica/ bi que ainda tá se “descobrindo”, se “aceitando” pelo fato de gostar de pessoas do mesmo sexo, pra se sentir representado e vê que, indubitavelmente, não estás sozinho; e indico a ti, que é heterossexual e quer entender melhor o que o teu amigo/ primo/ irmão viveu/sofreu nesse tempo todo. São produções leves, divertidas e reflexivas; abordam tudo do jeito que deveria ser tratada a homossexualidade e o que envolve esse meio: com naturalidade. Afinal, nós merecemos, não é?

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Ah, escrevi esse texto há uma semana. Já tô na segunda metade da segunda temporada de Love, Victor. Dessa vez, tive uns gatilhos; porém, tá dando pra maratonar. Quando a gente encontrar algo que nos representa é incrível, né, não?! 


Sites para assistir à série:
          

https://filmeflix.online/temporadas/assistir-love-victor-2-temporada-online/

https://www.superflix.net/assistir-serie-love-victor-online/



[1] Produzido pela 20th Century Studios - e adaptado do livro homônimo, de Beck Albertalli.


Comentários

A trilha sonora do filme é a melhor que ouvi em muitos anos, como amante musical eu sabia que vc ia gostar bastante desse aspecto também.
E tanto o filme e a série são interessantes porque mostram os diferentes pontos de vista: do protagonista, dos amigos, da família.
E no final, a mensagem transmitida é que não importam os detalhes de fato, as pessoas continuam sendo sempre as mesmas e o amor entre amigos e familiares nunca vai mudar. Pelo contrário, deve ser fortalecido quando todos se conhecem melhor e, por isso, se aceitam e se amam ainda mais. Até porque o importante é ser honesto, trabalhador, esforçado e amoroso com as pessoas que se ama. 🤗✌🏽

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