Entrevista com o escritor Tiago Júlio Martins

revisão textual: Tassiane Santos

Imagem: Sidney Oliveira


Escrevo histórias desde que aprendi a escrever. Quando elas não estavam no papel, estavam escritas na mente.

Seria clichê afirmar que a vida de escritor, sobretudo no Brasil, não tem nada de fácil. Mas também vale dizer o quão ela é prazerosa. Uma prova disso é o poeta, escritor, jornalista e estudante de psicologia Tiago Júlio Martins, de 30 anos, aqui do Pará, que já lançou dois livros: “Cabeça Bipolar” (2016) e “Outubro” (2020); e a pesquisa “Transvendo mundo”, aprovada pela Lei Aldir Blanc. Tiago é um jovem artista que se aventurou no mundo da escrita desde cedo, porém se dedicando com mais frequência quando iniciou o curso de Comunicação Social – Jornalismo, em 2008.

Com a culminância dos blogs, Tiago criou sua própria página na internet e começou a trocar informações com escritores e leitores de todo o Brasil. Logo que se formou, se tornou repórter do jornal O Diário do Pará; desde aí, não parou mais: sua produção textual aumentou e já conciliava o trabalho literário com o jornalístico. Para quem pensa que Tiago é do tipo de escritor que depende da famigerada “inspiração” para soltar sua escrita, tá enganado. Lá atrás, quando era mais novinho, ele só escrevia quando tinha vontade, porém quando ingressou para o meio jornalístico e teve que escrever profissionalmente, compreendeu que era preciso disciplina e compromisso pra encarar esse ofício com maturidade.

Imagem: Sidney Oliveira

 
Se eu só escrevesse quando tivesse vontade, certamente seria demitido do trabalho no primeiro mês (risos). Quem quer levar a carreira literária a sério, precisa ceder às situações adversas, produzir e treinar constantemente, pois só a prática melhora o texto.

Muitos de nós, escritores – sim, eu me incluo nisso -, demoramos a nos considerar escritores, de fato. Tiago é um desses: só se viu como um escritor na noite pleníssima de autógrafos do lançamento de seu primeiro livro, o “Cabeça Bipolar”, em outubro de 2016: “Lá caiu a ficha”. Para ele, muitas pessoas veem a ideia da publicação de um livro como um tipo de fetiche, “um ideal romântico, como se fosse a materialização de um sonho, um grande objetivo de vida. Eu tive isso também. Fantasiei muito lançar o ‘Cabeça Bipolar’ e foi uma experiência extraordinária e muito marcante para mim”, relembrou o jovem escritor.

Repito: muitos de nós, escritores, escrevemos porque precisamos desabafar, nos aliviar, sentir e transmitir emoções. Nos traz, entre tantas coisas, um enorme prazer. Para Tiago é sempre prazeroso; com o apoio da tecnologia fica tudo ainda mais fácil e interessante: “Escrever é uma oportunidade de me comunicar com as outras pessoas, tocar suas essências, compartilhar pensamentos, desejos e sonhos. É uma chance única que a tecnologia nos oferece”. Ele ressalta que busca escrever um pouco diariamente, principalmente no Instagram, para fortalecer os laços com seus leitores/ seguidores (fãs, né, queridos?) e, claro, exercitar seu estilo e capacidade de expressão.

Imagem: Site Rede Pará

           Falando nos leitores/ seguidores, são eles que dão um gás na nossa produção textual, na nossa arte. Tiago corrobora essa ideia, pois quem o segue é sempre muito carinhoso, atencioso, gentil, com um afeto imenso. A gratidão pelo feedback com seus leitores é eterna e sempre que pode reforça o quão são especiais para ele. Até porque, pouco recebe críticas negativas.

Graças a Deus, as críticas ruins, que com certeza existem, quase não chegam até mim. Valorizo críticas construtivas, mas, sobretudo na internet, que é o meio que eu mais atuo, há pessoas maldosas que buscam ferir as outras com suas opiniões ácidas. Isso não me chega.

Profissionalmente ou não, quem escreve sabe que se enfrenta muitos desafios – alguns, internos. Escrever não é tão simples assim; nem é simples. Lidar com a ansiedade é um dos maiores desafios de Tiago. Ele afirma que já nem tem mais a ambição de se sustentar financeiramente somente com seu trabalho literário. A “esperança” está na psicologia e/ ou no jornalismo, mas admite: “Até pelo contato direto nas redes, ainda me deixo levar por certa preocupação com números e métricas. Queria falar para bem mais gente, no entanto, entendo que tudo isso é um processo lento e custoso, que já avancei bastante”. Ele não deixa de ressaltar que respeitar seu próprio tempo tem sido uma das lições mais difíceis, mas vem aprendendo a cada dia.

Sobre as duas profissões, jornalismo e psicologia, Tiago declara que ambas o aproximam – e muito - da poesia, justamente pelo convívio com o outro: “As pessoas são a maior fonte de poesia que existe. As relações humanas me inspiram profundamente. Tanto no jornalismo quanto na psicologia, a troca, o reconhecimento e a confiança mútua estão muito presentes”. Para ele, há um valor enorme na beleza em se participar de uma entrevista ou de uma sessão de terapia, claro, nas suas devidas proporções. Assim, Tiago aprende técnicas para se alcançar a essência das pessoas por meio do diálogo e da conversa íntima. “Isso sempre será muito útil e poético”, pontua.

Posso dizer – e Tiago já me confirmou – que se há um momento icônico é quando se lança um livro; é a realização de um sonho (eu fiquei todo besta). A mais recente publicação de Tiago é “Outubro”, que descreve a sensação como “mágica”: “Senti o mesmo de quando lancei ‘Cabeça bipolar’. Sou muito privilegiado e me considero abençoado também, pois minha família sempre ofereceu condições financeiras e emocionais para eu investir nestes caminhos, que não são os mais fáceis, nem os mais baratos”. Lançar um livro, ele ainda acrescentou, é o ponto alto, o ápice de um trabalho árduo de meses; de anos!

Tiago é escritor, poeta, jornalista e estudante de psicologia. Ele não para. O seu trabalho mais recente veio de uma bolsa de experimentação artística aprovada no edital de Artes Visuais da Lei Aldir Blanc, promovida pela SECULT (Secretaria de Estado de Cultura do Pará). O “Transvendo o mundo”, uma mistura de poesia com o audiovisual, provém de um trabalho que ele já vinha realizando há um certo tempo. Tiago conta que foi um processo natural se inscrever no edital, pois precisava de recursos técnicos de mais qualidade para continuar essa produção independente. Os vídeos do “Transvendo o Mundo” podem ser vistos gratuitamente em suas redes sociais.

É só procurar @otiagojulio no Instagram e curtir toda a poesia que Tiago Júlio tem a oferecer. Ele lança cada texto bonito e reflexo. Te juro! Acessa aê, que tu vais curtir!

https://www.instagram.com/otiagojulio/

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