Matéria: Quem realmente são as autoridades políticas!

Uma coisa é o cidadão brasileiro xingar uma autoridade política de corrupta. Outra é quando ela mesma admite ser inescrupulosa. Isso aconteceu. E pra piorar, aqui no Pará. No último dia 24, o vereador Odilon Rocha (SDD- PA), do município de Parauapebas, na sudeste do Estado, deu a seguinte declaração durante a sessão plenária na Câmara Municipal da cidade: “O valor que o vereador ganha aqui, se ele não for corrupto, não tenha nenhuma dúvida, que ele mal se sustenta durante o ano, durante o mês". No geral, deputados federais e senadores ganham 16,5 mil reais mensais e o presidente 12 mil, sem contar o auxílio para alimentação, viagens e outras despesas pessoais. Se antes, nós já tínhamos o hábito de difamá-los, agora temos um real motivo. Na verdade, nossa insatisfação com os políticos no Brasil é expressada em diversas formas. Uma delas é na música.
Em 2005, período em que o escândalo do mensalão estava em alta, o grupo Titãs lançou a música “Vossa Excelência”, que era mais que uma crítica explícita aos políticos brasileiros (lei mais clicando aqui)[1]. É como um acesso de fúria, ofendendo-os sem parar, com uso, inclusive, de palavrões. “Senhores! Senhores!/ Filho da puta!/ Corrupto! Ladrão! Bandido!”, braveja o refrão da canção. A letra acusa os deputados, vereadores, magistrados, ministros e senadores - só faltou o/ a presidente - de ladrões logo no início, afirmando que eles roubaram dinheiro da população e esconderam nas “mangas”, “capas”, “golas”, "fundilhos" e  "perucas". Conta, também, que mesmo tentando enganar a sociedade, nós sabemos de tudo (ou quase tudo) que eles fazem. As denúncias contra vereadores e senadores são reveladas aos poucos e “um dia, o sol ainda vai nascer quadrado” para eles. E isso realmente aconteceu: 20 acusados, decorrentes do julgamento do mensalão, foram condenados para cumprir pena, uns em regime aberto, outros em fechado (saiba mais aqui). Um dia, apesar da demora, a casa iria a cair para eles.
A corrupção na política também é retratada na música “Pega Ladrão!”[2], do rapper Gabriel, o Pensador, de 2001. A letra foi baseada em um escândalo político da época: o caso do ex-senador José Roberto Arruda por violação do painel do Senado. Arruda, em 2000, foi condenado pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região a pagar multa de cem vezes o salário dele como senador (leia mais aqui). “Pega ladrão!” é título e também refrão da canção referente à desonestidade do ex-senador e, também, encontra-se uma exigência no rap: “Tira esse malando do poder executivo/ Tira esse malandro do poder judiciário/ Tira esse malando do poder legislativo!”. Versos depois, o compositor questiona o eleitor, pois se há inúmeras falcatruas no Brasil, boa parte da culpa cai sobre àqueles que elegeram tal político para determinado cargo, como nos versos: “E você, que nasceu nesse país/ E que sonha e que sua para ser feliz/ Você presta atenção no que o candidato diz? Ou cê vota em qualquer um, seu babaca?”. Afinal, cabe a nós tomarmos a melhor decisão durante as eleições. Mas, pelo visto, nunca acertamos. 
Normalmente só se ratifica a corrupção após muita investigação, mas nesse caso foi diferente: o próprio vereador Odilon Rocha admitiu que é preciso roubar verba pública para que se tenha uma vida mais confortável e luxuosa. No entanto, no último dia 7, em um novo pronunciamento na Câmara, ele disse que “não teve a intenção de acusar alguém com a declaração e deixou claro que quis apenas chamar atenção para os vencimentos recebidos pelos políticos”, de acordo com uma matéria do Diário do Pará. O fato é: enquanto nossos professores são mal remunerados; a saúde, escola, educação, segurança, enfim, continuam em decadência no Brasil, as lideranças políticas recebem rios de dinheiro e ainda acham pouco. Creio que elas ficariam bastante apreensivas se um dia trocassem a fortuna mensal delas por um salário mínimo de qualquer trabalhador brasileiro. Aí sim, elas acreditariam que teriam razões para reclamar. Mas não teriam razão alguma. Seria bom demais se isso acontecesse. Não custa sonhar. É grátis.


Textos eletrônicos
http://g1.globo.com/distrito-federal/noticia/2012/08/trf-condena-arruda-por-violacao-do-painel-eletronico-do-senado-federal.html
http://g1.globo.com/politica/mensalao/noticia/2014/11/um-ano-apos-prisoes-7-de-20-presos-do-mensalao-cumprem-pena-em-casa.html
http://www.diarioonline.com.br/noticias/para/noticia-329826-declaracao-de-vereador-causa-repercussao-nacional.html
http://letras.mus.br/titas/65948/
http://letras.mus.br/gabriel-pensador/73483/




[1] MIKLOS, PAULO; GAVIN, Charles; BELLOTTO, Tony. MTV AO VIVO, 2005, Sony BMG.
[2] PENSADOR, Gabriel o; MOCOTÓ, Tiago; LIMA, Ana; SHUR, ITAAL. Pega Ladrão. Seja você mesmo (mas não seja sempre o mesmo), 2001, Sony Music, faixa 4

Comentários

Excelente matéria, mostra que falar sobre política não precisa ser enfadonho. E as músicas tem um grande alcance, e ressoam aquilo que o cidadão gostaria de gritar bem alto.
Eu vi a declaração desafortunada desse sr na TV, mas ainda não tinha ouvido essas canções. Engraçado como não importa o tempo que passe, algumas músicas continuam atuais.
Thyago Santos disse…
Mano, eu ja havia lido sua matéria, mas tive que reler, e está muito boa cara!
E nossa! a selação de musicas, também, está perfeita.

Nada como RAP para fazer uma critica social, verdadeira e embasada.
Na verdade, não só o Rap, mas muitas musicas foram e são importantes pois fazem uma critica social, são musicas de protesto.

E acho que as pessoas deviam ouvir mais esse tipo de musica, pois há nelas um grande apelo à consciencia.
Aqui vai um link de um post de blog legal que eu achei:
http://www.rockdeverdade.com.br/13-musicas-nacionais-de-protesto/

Eu estava ouvindo a musica do Gabriel, o pensador, e só levei tapas na cara.

""Você presta atenção no que o candidato diz? você vota em qualquer um seu babaca.
E depois da Eleição você cobra resultado? ou fica ai parado de braços cuzados? se lembra em quem votou pra deputado?!"

Eu só pude responder "não", no final.

Postagens mais visitadas