Resenha: O conteúdo metafórico do filme "Entre Abelhas"
Com Fábio Porchat sendo o protagonista, poderia se dizer que o filme “Entre
Abelhas” tem a comédia como gênero. Mas essa informação seria um equívoco.
O longa-metragem é dirigido por Ian SBF, o mesmo diretor dos vídeos do “Porta dos Fundos”, o fenômeno canal do youtube. Aliás, “Entre Abelhas” também conta com outros
atores do “Porta”, como Marcos Veras, Luis Lobianco e Letícia Lima. Isso,
porém, não faz dessa obra cinematográfica uma comédia, mas um drama inteligente e bastante
metafórico, relacionando uma história indizível no cinema brasileiro, que é o desaparecimento
das abelhas com a solidão de cada indivíduo.
Bruno,
vivido por Fábio Porchat, não aceita com facilidade o fim do casamento com a
esposa Regina, interpretada por Giovanna Lancellotti. Enquanto os amigos
comemoravam a despedida de casado de Bruno (tipo de comemoração que eu jamais imaginei que existisse) em um bordel, ele ainda não tirava a ex da cabeça. Logo no início, ele
presenciava alguns acontecimentos um tanto quanto bizarros: as pessoas sumiam subitamente
de sua frente. O primeiro sumiço foi de um taxista que o elevava até sua
casa. Do nada, o cara some. Assim mesmo: some do nada. E Bruno que, aparentemente, falava sozinho,
saiu abrupta e enlouquecidamente do carro. Daí em diante, as pessoas, aos
poucos, iam sumindo, sem uma explicação sequer. Aquela velha frase clichê, mas verídica: seria cômico se não fosse trágico. Na verdade, é cômico e trágico.
Pra
variar, por ser um filme brasileiro, há um excesso de palavrões colocados
meio que aleatoriamente na boca dos personagens. Todos fora do tom e desnecessários. Com essa unica exceção, há muito pouco a se queixar de “Entre Abelhas”. Uma das coisas boas do filme é o apelo
visual. Os diálogos quase não são trabalhados em várias cenas, as quais exibem belas imagens da cidade do Rio de Janeiro, além de deixar
bem claro que não é preciso encher um texto de piadas de duplo sentido - ou não - parar
gerar comicidade. A maioria das risadas vêm através de cenas com poucas falas
e muitas expressões faciais, com um texto não-verbal cheio de eficiência para a
lado cômico e o dramático. Até Marcos Veras, que dá vida ao Davi, o melhor
amigo de Bruno, larga a mesma cara cínica de sempre e atua com mais
amadurecimento.
Irene
Ravache, que interpreta a mãe de Bruno, é um dos maiores destaques de “Entre
Abelhas”. Ela utiliza a linguagem corporal para viver uma
mãe parceira e compreensível, que faz de tudo para curar o "problema de saúde" do filho, além de ser engraçada, mas sem trejeitos ou exageros. Ravache tem uma atuação leve, porém que rouba a atenção do púbico, arrancando risadas e, para os mais emotivos, também nos tira as lágrimas. No entanto, o
longa-metragem não se supera somente pela atuação, direção ou fotografia, mas
pela temática. Gradualmente, a comédia vai saindo de cena e dá lugar ao drama, e
a vida do personagem de Porchat vira de cabeça para baixo, pois cada vez mais as
pessoas estão desaparecendo. E isso tudo, mesmo que pareça o oposto, há coerência.
Mas
para entender melhor a proposta metafórica do filme, é necessário que se
entenda um pouco sobre uma teoria: o desaparecimento das abelhas. Sem uma
explicação, de fato, elas começam a sumir do mundo, e sem elas, não
perdemos somente o mel, mas também as flores, já que elas são responsáveis pela
polinização de mais de 240 mil espécies que plantas poríferas que existem. Leiam aqui, caso queriam entender melhor. O fato é o que “Entre
Abelhas” aborda um tema de importância vital mesclando com o social, o cotidiano do ser humano,
com dramaticidade e humor. É a prova de que o cinema nacional está evoluindo e
que ao contrário de antigamente, ele não é mais uma cultura mastigada, porém
uma cultura que deve ser saboreada, apreciada, que exige reflexão. Porque, mesmo que muitos pensem
o contrário, a cultura brasileira sai de sua zona de conforto, da mesmice e nos proporcionada, a cada estreia, um longa-metragem de grande qualidade.
Ah, faça o Victório feliz e deixe seu comentário aqui em baixo :D :D
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Comentários
Realmente o cinema nacional tem evoluído bastante, o que é muito bom para nós brasileiros e nossa diversão no cinema, e também melhora a visibilidade do país no exterior.
Ainda não assisti a esse "Entre Abelhas", mas depois de ler esse seu review, fiquei interessado. Vale ressaltar que as abelhas são essenciais para a humanidade não apenas por polinizarem as bonitinhas flores, tornando o mundo mais colorido. Esse papel na polinização as torna essenciais para a produção de alimentos, de modo que a extinção de abelhas põe em risco a própria sobrevivência da humanidade. Por mais que desenvolvamos técnicas modernas de plantio em larga escala, ainda não conseguimos substituir as abelhas como polinizadoras, nem mesmo com outros insetos. Tanto é que inúmeras pesquisas estão sendo desenvolvidas para resolver esse problema com as abelhinhas e salvar a humanidade.
Outro filme nacional que segue essa linha cômico-reflexivo é "Loucas pra Casar", com Ingrid Guimarães. Trata dos relacionamentos e das pessoas na pós-modernidade, e faz nossas mentes revirarem com as revelações e reflexões que o filme passa, lembrando a estrutura narrativa de muitos filmes estadunidenses e suas reviravoltas inimagináveis num roteiro inteligente, sem pontas soltas, e atuações muito boas.
Aguardo uma resenha desse filme!!!