Pessoal: Uma simples carona

Ofereço essa crônica, que foi produzida com carinho e dedicação, a dois amigos: Jackson Pastana (aniversariante de ontem) por ter sido um dos amigos que mais me incentivou e incentiva na minha produção literária. E ao Andrei Odilon (aniversariante de hoje), que criou um belo poema para o conto "Nos seus Olhos", um dos mais visualizados aqui do blog. 


              Como diz o trecho de uma música do Nando Reis: “O que me faz feliz são coisas pequenas; um lindo arco-íris riscando o fim de tarde[1]”. Não foi realmente um arco-íris que me trouxe felicidade hoje, mas foi algo tão bonito quanto. O meu coração, que esses dias estava tão agoniado, se encheu de paz e sossego.
Fui (pela quarta vez na semana) com a Ivna, minha irmã, ao supermercado Líder, nessa manhã de sábado. Na fila do caixa, ela percebeu que uma mulher idosa e bem magrinha tinha dificuldades em carregar suas compras até o caixa ao lado do nosso. Minha irmã foi ajudá-la e levou metade das coisas, mas ainda assim eu pude notar que a senhora se atrapalhou em carregar suas poucas mercadorias.
Quando íamos em direção ao nosso carro, Ivna me contou que essa senhora iria a pé para sua casa e estava com o braço machucado, por isso sentia tanto peso com suas compras. Voltamos para verificar se ela ainda estava por lá, pois se estivesse eu iria oferecer uma carona. Afinal, dar uma carona, para mim, é algo comum, e como lembrou Ivna: “Ela deve morar perto, senão não voltaria andando”. Dito e feito. Encontramo-la e perguntamos se ela gostaria que nós a levássemos em casa, já que, de fato, a casa dela era “aqui pertinho”.
- Vocês tão falando sério? – a senhora perguntou, com os olhinhos esperançosos e se esforçando para carregar as sacolas. O braço direito estava dolorido e sua mão roxa.
- Sim, nós moramos aqui próximo. - respondi.
- Muito obrigada. Eu estou com o braço machucado, não vou dar conta de carregar isso tudo sozinha. Muito obrigada mesmo. Foi Deus que colocou duas pessoas como vocês no meu caminho. – disse, gentil e agradecida.
Somente no carro, a senhora nos explicou onde residia, e era mais perto do que nós imaginávamos. Quando saímos do Líder, ela voltou a falar e nos deixou sem graça: “Ainda há pessoas bondosas. Deus vai abençoar e trazer muita coisa boa na vida de vocês dois”. E no caminho, ela nos contava que queimou o braço enquanto cozinhava; a panela de pressão pifou na hora e causou muito estrago. Um analgésico e uma pomada estavam resolvendo o ferimento do braço dela.
“Eu estou morando nessa casa apenas há um mês, me confundo totalmente no caminho”, ela explicava, rindo, e nós rimos juntos. Moramos aqui em Belém há oito anos e eu também me confundo nas ruas próximas à minha casa. Já me perdi para chegar em uma casa que ficava praticamente na mesma rua que a minha.
- Ah, está ali a minha casa! - apontou a senhora, contente. – Podem deixar que eu atravesso.
- Não. Eu dou meia volta e lhe deixo bem na porta da sua casa.
- Ah, muito obrigada. – e antes de sair do caro, ela agradeceu outra vez, ainda bastante grata e afável. – Muito obrigada mesmo a vocês dois. Que sorte que eu tive de encontrá-los. Aliás, isso foi Deus. E eu tenho certeza que Ele vai recompensar essa ajuda que vocês me deram hoje. Muito obrigada! – e entrou em casa.
Estou acostumado a oferecer carona aos meus colegas, amigos e familiares, e quando me pedem, faço com muito prazer, ás vezes com uma preguiça quilométrica, ainda assim não nego. Mas dessa vez foi diferente. Minha irmã e eu nos sentimos em paz com essa simples ação. Meu coração, retorno a dizer, que estava tão afoito, agoniado e um pouco triste esses dias, mostrou-se leve hoje. Porque eu pude ajudar uma pessoa que realmente necessitava, e foi dirigindo, algo que faço quase que o tempo todo. Vi que a senhora, que já devia ter seus setenta e tantos anos, ficou realmente feliz por eu tê-la levado em casa e num momento em que ela tanto precisava. Ou seja, tirar um minuto do seu tempo para dar a mão a alguém não só beneficia o outro, mas principalmente a nós mesmos. E esse minutinho do meu dia clareou e tranquilizou meu coração de uma forma tão harmônica que eu espero que dure por um longo tempo. Pois “o tempo há de mostrar o mundo se transformar”, como diz essa mesma canção do Nando, que citei no início da crônica.
Portanto, uma coisa aprendi hoje: ajudar ao próximo é um ato simples e puro. E traz, assim como ler um lindo poema ou ouvir um incrível solo de uma guitarra, uma leveza e uma alegria sem tamanho pro coração. 

  




[1] REIS, NANDO. Livre como um deus. Drês, 2009.

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