Outras Versões: "Muito Estranho (Cuida bem de mim)"

A professora Gessiane, de Fonética e Fonologia, entrou na sala de aula e se sentou à mesa. A minha carteira ficava em frente a ela, e me sentei cantarolando esta canção:

Uh, mas se um dia eu chegar muito estranho
Deixa essa água no corpo lembrar nosso banho


Ela me olhou com um leve sorriso de admiração e disse:
- É a primeira vez que vejo um garoto da tua idade cantando uma música que foi sucesso há tanto tempo. – fiquei surpreso e ainda ressaltei que essa canção do Dalto, de 1982, também foi gravada recentemente pelo Nando Reis e a professora se espantou. O papo acabou por aí, e isso foi há unes meses, antes da greve, acho. Até que hoje, depois de uma prova de Fonética e Fonologia, Gessiane me chamou:
- Victor, vem cá.
“Meu Deus, ela vai dizer que fui mal na prova!”, pensei, indo até a professora. E, para o meu alívio, Gessiane me lançou a seguinte pergunta:
- Tu me disseste naquele dia que o Nando Reis tinha gravado “Muito estranho” do...
- Do Dalto, professora?
- Isso. Mas como, se essa música nem é do tempo dele?
Expliquei a ela um pouco do que eu sabia, mas aqui vai com mais detalhes: 

“Muito estranho (Cuida bem de mim)” é uma canção do álbum homônimo de 1982 de Dalto e surgiu meio por acaso. Dalto Roberto Medeiros, médico anestesista, também era compositor, e depois do seu álbum “Flash Back” (1974) ter vendido 50 mil cópias, passou a criar pelo menos dez melodias por dia e enviava para o seu amigo letrista Claudio Rabello. “(...) Numa manhã, de repente, o Claudio chegou lá em casa entusiasmado para mostrar uma canção minha. Nem sequer me lembrava de tê-la composto, mas nos sentamos ali na hora e a terminamos. Ali surgiu ‘Muito estranho’”, contou Dalto, numa entrevista para O Globo, em abril de 2014.

Hit não só nos anos 80, “Muito estranho (Cuida bem de mim)” não caiu no esquecimento porque, além de ser uma das mais belas canções da MPB, também foi e é imortalizada por outros artistas até hoje. Em 2001, no álbum “Seda Pura”, Simone a defendeu com sua voz gravemente suave, numa levada mais lenta que a original, acompanhada de um teclado intimista e uma percussão discreta, realçando o romantismo geralmente harmonizado pela cantora. A Rede Globo, então, trouxe "Muito estranho" para a trilha sonora da novela “Desejos de Mulher”, no ano seguinte, e se tornou tema de Andréa, personagem de Regina Duarte.


O trio KLB, que hoje em dia anda bem sumido, também fez sua versão de “Muito estranho”, no seu primeiro álbum, em 2000. Apesar de eu não apreciar o modo de como eles cantam (com a voz vibrante e a mania de repetir um “aaah” no final de algumas palavras) devo admitir que Kiko, Leandro e Bruno deixaram a música de Dalto e Claudio Rabello bem “fofa”. Os instrumentos principais nessa gravação são os violões tocados pelos três, e um violino, que foram os responsáveis pela “fofura” e embelezamento da canção. E até os “aaah” e “uhh”, os quais às vezes me agoniavam no KLB, foram utilizados de um jeito equilibrado que encaixasse na roupagem deles e não decepcionaram.


O álbum “Íntimo” (2012) do romântico Fábio Jr foi só de regravações de outros músicos e uma delas foi a “Muito estranho”. Diferente das outras duas acima, o intérprete de “Caça e caçador” não foi tão meloso, e ousou dando maior destaque na bateria, num ritmo mais jovial, dançante, lembrando muito o estilo remixado. Essa pequena mudança na pegada, no entanto, não atingiu a sua essência, veio com um diferencial na musicalidade, e abraça o público da geração atual, que pode, por ventura, não conhecer esse grande sucesso dos anos 80. E, claro, a marca registrada de Fábio Jr, de acrescentar falsetes ou trechos e frases próprias a uma ou outra canção, como no final: “cuida bem de mim, vê se cuida...”.



Pra terminar, duas belas versões ao vivo de “Muito estranho (cuida bem de mim)”. Uma foi gravada em 2010, por Nando Reis e os Infernais no “Bailão do Ruivão”, também apenas de sucessos de outros artistas. Talvez a mais bonita de todas as mencionadas aqui, pela musicalidade simples do violão marcada do início ao fim, do teclado, da suavidade vozes das “backing vocal” e da rouquidão de Nando Reis. Já Toni Garrido, o vocalista do Cidade Negra, emprestou sua voz à música de Dalto no álbum “Um barzinho, um violão” do ano passado. Não tem nada de reggae, mas um swing e sensualidade na interpretação dele, em que o violão e a percussão são os únicos que os acompanha. Agora, é só escolher a sua versão favorita, dar o play e “então misture tudo dentro de nós...”. 



Referência:
http://oglobo.globo.com/rio/bairros/dalto-um-medico-de-quem-musica-cuidou-muito-bem-12234278

Comentários

Vanessa disse…
Ah lindão...se tratando de música é com a gente mesmo né?! rs.
Acho linda demais está música também,adorei vir aqui e lê você falando um pouco dela.
Te amo meu amigo.
Victor surpreendendo até professores com sua expertise musical.
Eu mesmo já tinha escutado por alto essa canção no auge do KLB, mas não conhecia sua história e nem sabia o quão famosa ela já era. Obrigado por enriquecer meus conhecimentos musicais, como sempre!
Cris Freitas disse…
Menino vou te falar, confesso que prefiro a versão do trio KLB da canção Muito Estranho (Cuida bem de mim)... Hahahaha...! Fico louca e extasiada quando escuto, não tem jeito, posso ouvir milhões de outras versões da mesma, mas essa é a que me faz voltar à minha adolescência quando ficava atrás de casa me embalando na rede ouvindo e cantando KLB E SANDY E JÚNIOR incansavelmente... kkkkk...!

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