Poemas: Fora de ordem/ Divina/ Os Almeida

Fora de ordem (sobre uma árvore caída)

A manhã seguia sem mistérios

Com os passos firmes do cotidiano

O ritmo sagaz, como sempre, histérico

Tranquilo, nada muito estranho.

Até que as ruas não mais corriam

As horas passaram na minha frente

Os automóveis não se entendiam

A agonia se envolvia em toda a gente.

A pressa já me cutucava o ombro

O relógio não me ajudava

A inquietude nos tirou o sono

Do que acontecia, eu não sabia nada.

Então eu soube, o incomum nos visitou

O verde nos tirou a concentração

O pouco da natureza nos incomodou

Só o que ela visava era a nossa atenção.

Ela não queria nos ferir ou nos atrapalhar

Sua força que é frágil, nós é que esquecemos

Suas raízes intensas, não querem nos assustar

O ser humano, sim, é de se amedrontar.

A árvore embelezava e coloria o ambiente

Nos abraçava e proteia com toda sua ternura

Mas, de tão madura, não foi forte o suficiente

E do que dela se restou estava jogado na rua.

Agora, éramos duas espécies distintas juntas

Nós, humanos, necessitamos da natureza

Mas, algumas vezes, travamos mais uma luta

E isso não é bonito nem nobre, tenha certeza.

Gradualmente, a confusão se despedia

E tudo voltava ao seu normal

Dificilmente daquela tarde se esqueceria

Quando uma planta invadia o mundo brutal.

Divina

Eu posso não mais te arrancar

Pros meus sonhos mais perversos

Mas eu ainda sei te papear

Nesses meus inúteis versos.

É admirável a tua garra de todo dia

A tua luta e coragem tão intensas

Se nos teus olhos a lágrima ainda ardia

É um mistério entender o que você pensa.

Você não é moldada só de pureza

Há muito além da tua inocência

No teu rosto esconde alguma tristeza

Pois nem todos valorizam a tua existência.

A tua dor nenhum de nós terá nos dedos

O teu corpo libera suspiros sem perceber

O charme é em decifrar o teu segredo

E quem sabe, um dia, eu consiga aprender.

Não se prive, não se renda aos demais

Viva sem nenhum freio, sem nenhum limite

O teu sorriso por si só já transmite paz

Te ter por perto é um irrecusável convite.

Você é a inspiração para as artes mais belas

Carrega a vida no pulso, sabe como ela é

Suporta do mundo a fúria e sempre é tão singela

A melhor criação de Deus é você, mulher. 

Os Almeida

Nossa família é assim

Nem sempre dá pra entender

Num dia, o amor não tem fim

Depois, um manda o outro ir se foder.

Um primo briga com o outro

Tem irmão que nem se fala

Mas digo e repito de novo

Se houver perdão, nada atrapalha.

Nem todos se reúnem

Para uma confraternização

Porque as datas se confundem

Mas não se perde a animação.

A nossa língua é bem afiada

Ela fere, corta e cicatriza

A palavra, às vezes, maltrata

E a raiva, de alguns, se eterniza.

O que a gente quer é um motivo

Pra poder comemorar

Olhar só para o seu umbigo

Não ajuda, só faz piorar.

Quando todos estão juntos

Já aprendi, não tem jeito

Tem briga em um segundo

Sem perder, é claro, o respeito.

Eu ainda tenho a esperança

Que o rancor vá embora

Que se acabe a arrogância

E a falsidade fique lá fora.

É na hora que mais se precisa
Que a gente conhece de verdade
Eles te dão a mão amiga
Isso sim é que é lealdade.

Você pode ter muitos amigos
Amor pelo seu namorado
Mas quando você corre perigo
São eles que dão O abraço.

Em Belém, Santana ou em Breves
Eu sou muito paparicado
O meu riso fica mais leve
E nada é tão complicado.

Uma vez eu ouvi dizer
Que família é só pai, mãe e irmãos
Mas ainda é preciso vencer
A mágoa que há no coração.

Parente é família, sim
E a minha não tem tamanho
Eu sei que eles gostam de mim
Mesmo eu sendo meio estranho.

"Agora vai, agora vai!",
O meu tio costuma brincar
Se tem cerveja, de perto ninguém sai
E eu pergunto: "Como não amar?"

No fundo, a gente muito se ama

E o nosso laço é bem mais forte

Uma parte de mim também é Gama

Disso eu tenho tanta sorte.

Há muito para viver ainda

E o sorriso, rápido chega

Acima de tudo, somos família

E eu tenho orgulho de ser Almeida.

Victor Victório.