Novela: Ardente Traição. Capítulo 4



Ardente Traição - Capítulo 4

O chão da sala estava gélido. De conforto 0, mas de ardência e sensualidade, Mila ganhava 11. Ela me jogou no chão e tirava o fôlego no beijo. A contratação dela como babá de Samuca era recente e logo quando vi sua pele morena, seu jeito de menina-mulher e seus lábios carnudos, me senti atraído. Porém, nada além disso. Mila, em cima de mim, era uma visão que eu não previa e não controlava. Então, que não houvesse controle.
A blusa simples, mas decotada, que Mila usava foi tirada e jogada no sofá, causando uma pequena bagunça em seus cabelos longos. A provocação me sacaneou. Ela me beijou nos lábios, enquanto baixava, lentamente, meu short. Beijava meu queixo, minha barriga magra, quase sem pelos, até que chegou na minha cueca armada. As mãos de Mila, com a mesma delicadeza, me deixaram completamente nu. Fechei meus olhos e relaxei. Dei-me a liberdade de relaxar, como se nada mais ali importasse. Os lábios de Mila eram deliciosos não somente em beijar. Eram bons em me arrancar suspiros, em me fazer puxar o ar e devolvê-los pela boca, como um sopro longo. Sabiam me proporcionar prazer e me jorrar de tesão. Eu a empurrava para que não ousasse em parar, mas ela voltou a me beijar pelo corpo e nos meus lábios, com um gosto diferente. O meu gosto.
Mila deitou-se sobre mim e a peguei nas coxas. Grossas. Safadas. Ela segurou minha mão, levou-a até o seu short e desceu. Se era o que ela queria, ela teria. Joguei o short também no sofá e voltamos a nos beijar. Meus cabelos, já encharcados de suor, eram bagunçados pelas mãos nem tão delicadas da jovem babá. “Jovem babá”. Pensando dessa maneira meu tesão triplicava. E para fazer com que minha parte mais íntima alcançasse o ápice de sua ereção, Mila foi até minha orelha e a lambeu, depois a mordeu, de leve. Era meu ponto fraco. Ela percebeu minha fraqueza e não parou mais.
- Tá gostando, seu Narciso? – sussurrou, com um jeito sem-vergonha.
- Muito. Não para. - com a voz falhando.
Com uma tara impulsiva, pus as mãos em suas pernas novamente e retirei sua calcinha, mas a deixei no chão, ao nosso lado. Matei um dos meus desejos e dei um tapinha na bunda de Mila. Ela riu e disse no meu ouvido:
- Agora sim, sou toda sua.
Mila se mexeu e se curvou, pronta para que eu a penetrasse. Mas antes que ela o fizesse, lembrei de um pequeno e importantíssimo detalhe:
- Espere. Há camisinha na minha carteira, ali em cima da mesa. Vou pegar.
Ela amarrou a cara, mas não hesitou. Levantei-me, nu, suado e com uma espingarda entre as minhas pernas e peguei a minha carteira. Havia um preservativo lá dentro e o retirei. Mila veio até mim e se ajoelhou. Sentei-me no braço do sofá, com a camisinha em mãos, voltei a relaxar. Até que algo me tirou a concentração. Meu celular tocava. Era Aisha. Irritado, atendi:
- Tudo bem por aí, Narciso?
Mila não parava.
- Tudo. – respondi, com dificuldade.
- Tudo bem com o Samuca?
- Tudo.
Mila me sugava.
- Vou deixar você dormir. Eu só estava preocupada. Boa noite. – e desligou. Depois disso, vi o tal porta-retrato com a Aisha sorridente e me desliguei de seu avermelhado. Me desliguei do mundo. Virei o porta-retrato de modo que eu não pudesse vê-lo. Mila pegou o preservativo, balançou-o com um ar sexy e disse:
- Esqueça a dona Aisha. Se concentre na gente.
Obedeci.


Acordei com o corpo dolorido, melecado de suor e a cabeça doída devido ao chão duro da minha sala. Eu estava sozinho e despido. Meio tonto, sentei-me no sofá e me lembrei da noite anterior. Fui até meu quarto e não encontrei meu filho e nem sua gostosa babá. Em cima da cama havia um bilhete.
“Dona Aisha veio nos buscar bem cedo. Não se preocupe, ela não desceu. Obrigada pela noite. Ela não sabe o que está perdendo”. Ri baixinho ao ler o bilhete. No verso do papel, o poema que vi no livro, passo a limpo, e o li em voz alta:

                      Navego na ânsia do teu beijo
Sonhando teu corpo tocar
Sentindo ardente desejo
Teu gozo, teu riso, encontrar. 

                      E na imensidão dos pensamentos
Te vejo, tesão em minha cama
Orgasmos de eternos momentos
Louca, jocosa chama.

                      E em teu corpo sensual
Encanto em pele morena
Louco, te sinto, fatal

                      Me entrego ao calor da paixão
Menina, fogosa tentação
Meu sonho d´um lance real.

Francisco Andrade.

               Lembrei de cada beijo dela no meu corpo: intimidade ardente. Momentos íntimos e ardentes. Mas eu tinha que trabalhar. Peguei uma toalha para tomar banho e só então verifiquei o horário: passava das oito da manhã. Além disso, várias chamadas não atendidas de Danilo, meu sócio. Era um sábado sem folga. Liguei para Danilo para me justificar, mas nem foi necessário. Ele me atendeu às risadas.
- Fala, garanhão! E aí, a babá é muito gostosa?
Danilo me ligou e, como eu não atendia, procurou por Roan, que o explicou da minha possível e certa noitada com a babá de meu filho, mas não me dispensou do trabalho. Na Associação dos Notebooks, Danilo e eu não tivemos tempo para conversas, pois graças ao nosso bom Deus, tivemos uma boa quantidade de clientes, querendo conserto de computadores e impressoras ou peças de informática. Nosso horário de trabalho iria até às 13h e fomos almoçar num restaurante próximo. E ele me fez contar, em alguns detalhes, sobre a minha madrugada com Mila. Quando, no entanto, eu comecei a falar, Danilo não me olhava nos olhos. Havia alguém atrás de mim que o tirava a concentração.
- Aquela ali não é a mulher do Jairo?
Virei para trás, nada discretamente, e confirmei. Era Cassandra. Mas não estava sozinha. Fiquei com medo que ela me visse, por isso disfarçava os olhares. Danilo e eu paramos de conversar para espiá-la. Porque Cassandra, uma mulher loira e baixinha, de cabelos curtos e encaracolados, não estava sozinha. Havia um rapaz negro, meio magro e sorridente, na companhia dela. Estivemos calados até o garçom nos servir uma cerveja. Ele se retirou e Danilo a vigiou por mim.
- Cara, olha aquilo.
Cassandra segurava a mão do rapaz. Sem pensar duas vezes, peguei meu telefone e liguei para Jairo, no mesmo instante em que Danilo fazia uma foto dos dois, e rapidamente se encolheu na cadeira, saindo da vista dos dois. Quem pensa que fofoca é somente característica feminina está enganado. Fofoca masculina também existe e pode ser confundida com um tipo de cumplicidade em sussurros. 
- Vem aqui no Churras. AGORA. – ordenei. – E vem rápido, porra!
- Cara, olha a foto que eu fiz. – Danilo me entregou o celular. – A resolução é ótima, não é? E vê só...
Mas eu não o dava bola. O garçom serviu a mesa de Cassandra e do cara que ela passava a mão. Os dois bebiam cerveja e almoçariam uma lasanha. E mais uma vez os dois se tocavam. Aquela cena tinha que ser vista por Jairo. O casal se chifrava sem saber. Meu amigo galanteador não era o único esperto da relação. A esposa era tão inteligente quanto.
- O que houve? – Jairo apareceu, subitamente.
- Como você chegou tão rápido? – perguntou Danilo, espantado.
- Saí daqui agora há pouco. Vim ver um cliente e... – ele parou e observou na direção exata. – Ei, aquela ali é a Cassandra?
- É, cara. – respondi, aflito.
- E o que ela faz de mãos dadas com meu cliente? – irritado, Jairo nos largou e foi até eles. O garçom nos serviu o almoço e Danilo me aconselhou acompanhar meu amigo. Concordei e segui Jairo, que estava em pé, sério. Perguntei se estava tudo bem e ele me respondeu de modo irônico e com a voz propositalmente elevada:
- Me traindo com meu cliente?
O cliente de nome até então desconhecido se ofereceu para sair e eu concordei, mas Jairo o impediu. Sussurrei no ouvido dele:
- Eu vou levá-lo para fora e aí vocês dois conversam sozinhos.
- Nem vai precisar, oh, Narciso. – advertiu Cassandra, impaciente. Levantou-se e explicou: – Vou resumir a história pra poupar tempo: o seu cliente aqui, o George, deu em cima de mim desde que você nos apresentou, mas eu, como uma mulher fiel, ou teria sido, se eu não tivesse transado com você – olhando ironicamente pra mim e voltou-se a ele – mas como uma mulher fiel que eu sou, o ignorei. Até que uma prima minha, a Glória, te viu em uma festa uma vez e eu passei a desconfiar de você e pedi que assim que ela o encontrasse de novo, que me avisasse. Ela os viu no Bar das Onze dias atrás e confirmou o que todas as minhas amigas já tinham me dito várias vezes: que você me corneava.
Olhei para o lado. Praticamente todo o restaurante nos observava atentamente.
- Você e Roan não perceberam, mas acho que Narciso sim. Minha prima disse que você tinha desconfiado dela.
- Verdade. – confirmei, lembrando a moça gordinha e de cabelos pretos que nos fitava no fim de semana passado no Bar das Onze. – Tinha uma moça meio gordinha que nos olhava o tempo todo. 
- Ela só engordou uns quilinhos, Narciso...
- A Taila, ex-mulher do Roan, até pensou que ela estava dando em cima dele.
- Taila fez cena. Ela estava com a Glória, mas ela ficou em uma posição que vocês não as viam.
- Então a Taila... – comecei a perguntar.  
- Ela sabia de tudo e me ajudou a descobrir. Ela fez aquela cena de ciúme só pra vocês não desconfiarem de nada e quase que tudo vai por água abaixo. Glória também me ajudou muito, sempre que podia. Ela frequenta quase os mesmos bares que vocês e sempre que te via com alguém, Jairo, ela me enviava uma foto. Ah, Aisha também sabia. Pensei que ela os tivesse contado.
- Então você... – começou Jairo.
- Sei que você me põe uns chifres faz tempo e não esqueço da vez que você ficou com uma aí na despedida de solteiro do Roan. Mas demorei a fazer o mesmo. Não sou que nem você, que fica com a primeira que vê pela frente.  
- Eu já ouvi demais. – encerrei o assunto. – Ei, vamos todos almoçar e cuidar nossas vidas! – gritei para os clientes e eles voltaram a cuidar das próprias vidas, ou seja, a almoçar- ou alguns deles. Mas Jairo não me tranquilizou. Ele focava Cassandra com raiva. Os punhos fechados e com os olhos negros. Não de cor, mas de fúria. Meu amigo deve ter entendido o mesmo que eu: Georde, o cliente, o procurou para fazer o divórcio dele e da esposa porque já estava com outra. Ele se aproximou de Cassandra e a puxou pelo braço, e sem alterar a voz, falou:
- Você não podia ter me traído. Não podia.
- Me solta. – mas Cassandra não era forte o suficiente. George, o cliente amante, se levantou.
- Você não tinha esse direito, Cassandra. Eu sou seu marido!
Cassandra se sentiu ofendida, e forçou tanto o braço que conseguiu se livrar de Jairo.
- Não tinha esse direito?! Quer dizer que você pode me trair e eu não posso te trair? É isso?
- É sim!
Vaias. A plateia estava atenta novamente e Jairo foi vaiado por todos. Peguei-o pelo braço e tentei afastá-lo dali. O gerente do restaurante já vinha em nossa direção.
- Não estou me sentindo uma idiota por ter sido traída, Jairo. Não fiz barraco, como você tá fazendo. Eu o traí e pronto.
- Não é assim tão simples, Cassandra.
- Não é mesmo. E foi você quem começou, e eu dei continuidade porque cansei de ser otária. Mas, em partes, eu me arrependo. Porque trair é sujo, é indigno, é para covardes feito você.
- Não me chama de covarde... – com a boca quase fechada. 
– Nós estamos errados, Jairo. Quando há traição ninguém tem razão. Perde-se a razão por completo..  
- Algum problema aqui? – o gerente perguntou, mas foi ignorado. Jairo se aproximou dela mais uma vez e com uma raiva de cegar a ameaçou:
- Você não sabe o que eu sou capaz de fazer, não é?
- Não sei, Jairo. – Cassandra o peitou. – O que você é capaz de fazer? Aliás, antes que você fale ou faça alguma idiotice que vá se arrepender depois, fique sabendo de uma coisa – e ficou o rosto colado no dele. O ódio do casal empoeirava o restaurante. – Qualquer homem é melhor que você. Narciso é melhor que você, principalmente na cama. – disse, sorrindo e piscando para mim. Cassandra não deveria ter dito isso. Mas confesso que fiquei feliz em saber, embora eu soubesse que foi apenas para provocá-lo.
- Sua filha...
Jairo não terminou a frase. Pra mim foi o suficiente. Antes que ele pudesse fazer ou abrir a boca para falar mais alguma idiotice que o pudesse comprometê-lo, o arrastei até a entrada do restaurante, com um pouco de dificuldade. Ele tentava resistir firmemente. Em frente ao meu carro, preocupado e confuso, perguntei:
- O que deu em você? Tá louco? Pensei que você fosse bater na Cassandra.
- Tive vontade. – respondeu, carrancudo e de braços cruzados.
- O quê? Só pode tá louco. Nunca te vi desse jeito!
- A culpa é dela. Cassandra não poderia ter me traído! – insistia como uma criança mimada.
- A culpa é sua, não dela. E se ela te traiu foi bem feito! Te devolveu na mesma moeda, Jairo.
- Assim como você, não é? Tão traíra quanto ela.
- Jairo...
- Mas tudo bem, não vou ficar com raiva de você. Ela que foi a safada.
- Ela foi a safada? Não se faça de inocente. A partir do momento que alguém desafia a fidelidade, não há mais saída e quando você maltrata essa fidelidade, já era. Não há mais confiança que se salve. Não há consideração que se salve. Acaba. E você a traiu várias vezes e teve o que mereceu, Jairo. Agora pare com esse machismo idiota, se recomponha e se prepare para o divórcio.
- Que irônico: eu, o advogado, vou preparar meu próprio divórcio.
Concordei com Jairo, rindo. Ele me analisou por um segundo e soltou uma faísca:
- Me lembrei de uma coisa: Você ainda não falou com o Roan?
- Ainda não. Por quê?
- Nada. Ele tem um assunto pra conversar com você.

Já que foi por culpa de Jairo que não terminei meu almoço, ele comprou minha refeição em outro restaurante e fomos almoçar na minha casa. Depois, uma conversa à toa, ele se acalmou e admitiu o papelão. Mas ainda achava que, por ser homem, só ele deveria trair. O assunto não foi prolongado para eu não me enraivecer com tanto machismo. Jairo pediu que eu o acompanhasse quando necessário, pois ele tinha medo de um outro ataque daquele e perder o controle. Ele sabia que Cassandra ia pedir divórcio, mas Jairo não estava querendo aceitar. O arrependimento de ter colocado chifres na esposa estava surgindo. Mas, no fundo ele sabia, não adiantava mais perdão. Não adiantava pé no chão. Não teria volta.
A conversa que Roan teria comigo, no entanto, Jairo não quis me adiantar. Disse que logo eu saberia. E quando ele abriu a porta para ir embora, Roan chegou. Mas não estava sozinho. Raquel, que agora tinha o cabelo mais curto, vinha com ele. De mãos dadas. Roan e Jairo se abraçaram e meu amigo corneado foi embora. Roan e Raquel entraram meio sem jeito e soltaram as mãos. Eles perceberam que eu as fitei.
- Sim, é isso mesmo que você tá pensando, Narciso. – afirmou Raquel, espontaneamente.
- E o que eu tô pensando?
Raquel suspirou abafando uma risada.
- Roan não te disse nada com medo que você se magoasse com ele.
Meu amigo me olhava sem jeito.
- Nós dois estamos... Nos conhecendo. Foi no Bar das Onze. – ela resumiu. – Eu falei ao Roan que você só se importa com uma pessoa: Aisha.
Ouvir o nome de Aisha me bateu uma dor no peito. Daquelas dores que se sente quando se lembra da pessoa amada, mas sabe que não há condições de estar ao lado dela. Daquelas dores melancólicas que te ferem o peito ao ouvir uma música romântica que remetem ao sofrimento que você tá passando. Daquelas dores simples, bestas e das mais devastadores que um ser humano pode causar ao outro quando se está amando. Ou quando pensa que está amando. Mas até mesmo na dúvida o amor causa isso nas pessoas. E é este o poder dele: de nos causar dor. Uma dor gostosa, sofrida, porém que nos faz viver. É pra isso que ele serve. O amor serve pra viver, pra ser vivido, e não para se desperdiçado. Sábio é o indivíduo que desfruta do amor.
Raquel tirou um pequeno papel da bolsa e me entregou. Era um ingresso para uma apresentação de dança.
- Eu iria assistir Aisha dançando hoje no teatro. Mas acho que quem tem que fazer isso é você, Narciso. Vá e não perca mais tempo. Pois se você perder tempo, você irá perdê-la. Eu sei o que eu tô dizendo.




Comentários

Ansioso pra ler o próximo capítulo!
Narciso parece o tipo de cara que enquanto não consegue ficar com a mulher certa, se diverte com as erradas xD

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